O poderoso polegar de Wes Montgomery, o Mago da Guitarra no Jazz
Os puristas do jazz não aceitaram que Wes Montgomery “se rendesse à música comercial”. Montgomery não se preocupava com isso.
Wes Montgomery tinha dezenove anos quando ouviu a gravação de Solo Flight, com a Orquestra de Benny Goodman, apresentando Charlie Christian na guitarra. Aquele som o impressionou tanto que ele, imediatamente, deu um jeito de comprar uma guitarra e um amplificador. E começou a estudar, sozinho, como tocar o instrumento.
Comprou todos os discos de Christian que encontrou e passou a repetir, nota por nota, cada um dos solos da guitarra do músico. Wes Montgomery já estava casado e trabalhava como soldador durante o dia. Por isso, estudava a guitarra à noite.
Como os vizinhos reclamavam do “barulho”, ele buscou uma maneira de suavizar o ataque às cordas do instrumento. Abandonou a palheta e passou a tocar diretamente com o polegar sobre as cordas. Assim ele descobriu, por puro acaso, um novo som para a guitarra, que resultou mais suave e agradável aos ouvidos.
Em um ano, Wes Montgomery estava tocando nos clubes de jazz de Indianápolis, sua cidade natal, imitando os solos de Charlie Christian. O contato com outros músicos, ampliou suas possibilidades, fazendo com que desenvolvesse seus próprios conceitos musicais.
Aliado ao estilo nada ortodoxo de tocar a guitarra com o polegar, Wes Montgomery aperfeiçoou o modo de tocar em oitavas, fazendo passagens de acordes com grande fluência, como se fossem notas simples. Essas nuances lhe permitiram criar solos surpreendentes, repletos de detalhes ousados.
Wes Montgomery chegou ser uma celebridade local em Indianápolis. Mas para garantir o sustento da família, que sempre crescia, continuava trabalhando como soldador na fábrica de peças para rádios. Seu expediente lá era de sete da manhã às três da tarde.
O músico voltava para casa e descansava até às oito da noite. De nove às duas da manhã, Montgomery tocava no Turf Bar. E entre as duas e meia e as cinco, dava expediente no Missile Room, outro clube de jazz da cidade. Essa foi sua rotina durante muitos anos.
Em 1959, Orrin Keepnews montou a Riverside Records e buscava talentos para sua nova gravadora. O saxofonista Cannonball Adderley ouviu Wes Montgomery tocando no Missile Room e ligou para o produtor, em Nova York. Disse a ele que havia ali um Mago da Guitarra, que não havia ainda se revelado.
Wes Montgomery foi imediatamente contratado, lançando no mesmo ano o sei primeiro álbum, The Wes Montgomery Trio, que abre com o tema ‘Round Midnight. Os críticos consideram que a fase da Riverside Records foi a mais importante na carreira de Montgomery. Ali ele se tornou o guitarrista mais influente na história do jazz, estabelecendo uma nova linguagem para o gênero.
Quando a Riverside faliu, em 1964, o produtor Creed Taylor levou Wes Montgomery para a gravadora Verve e depois para a A&M. Seu som suave e aveludado tornou-se mais pop e seu repertório passou a incluir os sucessos do momento, mais conhecidos do grande público.
Os puristas do jazz não aceitaram que Wes Montgomery “se rendesse à música comercial”. Montgomery não se preocupava com isso. Dizia que adorava o jazz mas precisava dar de comer a seus sete filhos.
Wes Montgomery morreu jovem, aos 45 anos, em 1968, de um infarto fulminante, no auge de seu sucesso. Aqui o vemos em um vídeo de 1966, gravado na Bélgica, com Harold Mabern, no piano; Arthur Harper, no baixo; e Jimmy Lovelace, na bateria. O tema é a sua composição Twisted Blues.