domingo, 26 de agosto de 2018

Toda a irreverência do Pagode Jazz Sardinha’s Club



O Improviso desta semana traz toda a irreverência do grupo carioca Pagode Jazz Sardinha’s Club. A música do Pagode Jazz mistura todos os gêneros genuinamente brasileiros com o melhor do jazz. Alguns de seus músicos vêm da tradição dos bailes e gafieiras do Rio de Janeiro, enquanto outros vêm dos conservatórios de música clássica. O som do grupo traz o maxixe, o jongo e choro, junto com o funk e o jazz, construindo um samba autêntico e sofisticado. A origem do nome Pagode Jazz Sardinha’s Club é também muito divertida. Ouça o programa e descubra. O Improviso tem produção e apresentação de Flavio de Mattos. Ouça na Rádio Senado

O melhor jazz do mundo, na medieval Marciac



Para um aficionado, estar em um festival como o Jazz In Marciac, é uma experiência quase mística. Marciac é um pequeno vilarejo medieval, perdido no interior da França, que no verão se transforma na capital mundial do jazz. Fundada em 1.298, a cidade tem 1.350 habitantes e recebe cerca de 250 mil visitantes, nesses dias. Ali se respira jazz de manhã, de tarde e, ainda mais, à noite, nos concertos dos maiores nomes do jazz de todo o mundo.

O sucesso do evento se deve à qualidade de sua programação. A edição deste ano, inaugurada dia 27 de julho, teve nomes como Wynton Marsalis, Chick Corea, Pat Matheny, Brad Mehldau, Abdullah Ibrahim, Gregory Porter, Joe Lovano e Dave Holand, para citar alguns. Seu espaço principal é uma grande tenda, com seis mil lugares, onde se apresentam sempre duas atrações a cada noite, durante quase três semanas.

Ao mesmo tempo, uma programação paralela tem lugar no Auditório L’Astrada, uma sala de 500 lugares. Neste ano, ali estiveram o guitarrista Julian Lage, a cantora Zara McFarlane, a baixista polonesa King Glyk, entre os novos talentos. Também o veterano pianista Kenny Barron e o consagrando trompetista italiano Enrico Rava.

O festival foi criado em 1977 pelo então jovem professor Jean-Louis Guilhaumon e o saxofonista Guy Lafitte, com o objetivo de preencher a carência cultural do lugarejo. A dupla teve o apoio do trompetista Bill Coleman, que morava na França e facilitou os primeiros contatos com os músicos americanos. 

Desde 1991, o trompetista Wynton Marsalis é um dos grandes patrocinadores do festival. Ele está lá todos os anos, tocando e ministrando cursos de jazz para os jovens estudantes. O músico tornou-se a figura simbólica do Jazz In Marciac e tem até uma estátua sua na praça do auditório L’Astrada. 

Wynton Marsalis e seu quinteto protagonizaram um dos concertos mais destacados desta 41.a edição do festival. O grupo teve a participação especial de seu pai Ellis, ao piano, e seu irmão Branford, no saxofone. Os Marsalis fizeram uma apresentação primorosa, com um repertório de clássicos do jazz além de composições de Wynton Marsalis. 

Contudo, quem arrebatou a plateia do Jazz in Marciac 2018foi o pianista Brad Mehldau e seu trio, com Larry Grenadier, no baixo; e Jeff Ballard, na bateria. Mehldau é dono de uma técnica surpreendente, em que a mão esquerda ganha um protagonismo inusitado nos solos. A arte do trio é uma de suas grandes forças de expressão, como ele demonstrou com sua composição For David Crosby, que abriu o concerto. Depois, Mehldau deslumbrou a plateia com o tema de Cole Porter I concentrate on You

Ainda falaremos de Brad Mehldau em uma próxima ocasião. Por enquanto vamos assistir sua apresentação na edição do Jazz In Marciac, de 2011, em que ele atuou em duo com o saxofonista Joshua Redman. Outro belíssimo concerto.


sábado, 25 de agosto de 2018

Julian Lage com Santana, na Califórnia, em 1996

A maturidade do jovem guitarrista Julian Lage


Com apenas 30 anos, o guitarrista Julian Lage alcança a maturidade musical com o álbum Modern Lore. O lançamento o coloca entre os grandes guitarristas do jazz, estabelecendo novos caminhos para a linguagem da guitarra no gênero. Apesar de haver surgido na cena jazz há relativamente pouco tempo, Julian Lage é um músico veterano. Menino prodígio, aos nove anos já estava em um palco, na Califórnia, tocando com ninguém menos do que Carlos Santana.

A síndrome do “prodígio” sempre perseguiu Julian Lage. Ele teve sua rotina de estudos e apresentações como fenômeno da guitarra retratada no documentário Jules at Eight, de 1996. Aos 12 anos, se apresentou no show dos prêmios Grammy de 2000. E aos 15,  já ministrava oficinas de jazz como professor da Universidade de Stanford.

Julian Lage começou a ter aulas de música aos cinco anos de idade, junto com seu pai, que queria voltar a tocar o violão, seu instrumento de adolescência. Nas aulas, o pai traduzia para o filho, em palavras simples, os ensinamentos do professor. Rapidamente o filho ultrapassou o pai, demonstrando um talento incomum para a música. 

O jovem músico recebeu uma sólida educação musical. Primeiro, com estudos do violão clássico no Conservatório de Música de São Francisco; depois, curso de jazz na Sonoma State University, finalmente a graduação na Berklee College of Music, a mais prestigiosa universidade de jazz nos Estados Unidos. Julian Lage hoje é professor de guitarra jazz no conservatório de São Francisco, onde estudou.

Apesar de ser considerado a nova sensação do jazz, Julian Lage diz que se vê mais como um guitarrista de blues, a música que marcou sua infância. “O blues está em minha essência. Era a música que meus pais escutavam em casa, blues, R&B e soul. Eu cresci ouvindo a guitarra como um instrumento muito sensual, semelhante à própria voz dos cantores de blues” explica o músico.

Lage conta que, ainda no conservatório, decidiu que precisava se aperfeiçoar e entender profundamente como utilizar as escalas e os acordes na guitarra. Foi quando um de seus professores lhe orientou de que, para isso, deveria aprender a tocar o repertório do jazz. E foi dessa maneira que o jazz se tornou sua forma definitiva de expressão.

No álbum Mordern Lore(Mack Avenue – 2018), a guitarra de Julian Lage lidera o trio com Scott Colley no baixo e Kenny Wollesen na bateria. Destacam-se os temas Look Book, o mais bop do disco, enquanto Roger The Dodger traz sua levada mais bluesy e The Ramble, que abre o cd vem forte no jazz rock. No vídeo a seguir temos Julian Lage e seu trio com o tema Atlantic Limited, em que podemos curtir toda sua técnica e sensibilidade.