segunda-feira, 15 de julho de 2019

Jaco Pastorius, “o melhor baixista do mundo”



“Olá, eu sou John Francis Pastorius III, o maior baixista do mundo”, se  apresentou Jaco Pastorius ao tecladista do Weather Report, Joe Zawinul, depois de assistir a banda, em Miami, em 1974. Zawinul riu da abordagem e pediu que lhe deixasse alguma gravação de sua performance. Um ano depois, Zawinul chamou o músico para substituir o antigo baixista, que deixava a banda. O baixo de Jaco Pastorius passou a ser  a marca definitiva do som do Weather Report.

Nascido na Pensilvânia em Fort Lauderdale, na Florida, Jaco Pastorius era já uma lenda local em sua terra. Ele havia começado tocando em bandas de R&B e de rock and roll, quando adolescente. Mas logo passou ao jazz, em parceria com o guitarrista Pat Matheny, outro jovem músico, em início de carreira. Eles gravaram juntos o álbum Jaco(1974) que viria a ser a primeira gravação de ambos. O disco já marcava o estilo inovador de Pastorius.

Jaco Pastorius foi contratado, em 1975, pela Epic Records, que buscava novos talentos do jazz. O primeiro disco que ele gravou para o selo é considerado hoje um dos melhores álbuns de jazz, tendo o baixo na linha de frente. No álbum Jaco Pastorius (1976), o músico estabelecia uma nova linguagem para o baixo elétrico, que soava quase como acústico.

O disco solo de Pastorius foi lançado no mesmo ano que o álbum  Black Market(1976), que marca o ínicio de sua colaboração com o Weather Report. Ele participa do repertório com a peça Barbary Coast. No álbum seguinte da banda Heavy Weather(1977), Jaco Pastorius já aparece como co-produtor e co-líder, junto com Joe Zawinul e Wayne Shorter. Sua composição Teen Town se torna um dos clássicos do Weather Report.

Jaco Pastorius ficou no grupo até 1981 e deixou o Weather Report para montar seu próprio grupo, o Word of Mouth. A nova banda tinha formatos variáveis, que iam desde o octeto até uma big band de 21 instrumentos. A Word of Mouth excursionou pelo mundo até 1984, quando o comportamento instável de Pastorius começou a passar-lhe fatura. 

Diagnosticado com transtorno bipolar, Jaco Pastorius tinha crises maníaco depressivas, agravadas pelo abuso de álcool e drogas. Morreu, em 1987, aos 35 anos, depois de levar uma surra do leão de chácara de uma boate. Antes, naquele dia, ele havia sido expulso do palco de um show de Santana, em que havia entrado de penetra. Logo, foi para essa boate, onde foi surrado, depois de discutir com o porteiro. O legado de Pastorius é destacado no documentário Jaco (2015), produzido por Roberto Trujillo, baixista do grupo Metallica.

No vídeo a seguir temos uma apresentação de Jaco Pastorius na Bélgica, em 1985, com Jon Davis ao piano; Paco Sery, na bateria; e Azar Lawrence, no saxofone. Eles tocam o tema Dolphin Dance, clássico de Herbie Hancock.

terça-feira, 9 de julho de 2019

O Adeus do Improviso ao Gênio João Gilberto


O Improviso, que foi ao ar no sábado, 06/07/2019, na Radio Senado FM por coincidência, homenageava João Gilberto ao destacar seu álbum Amoroso, gravado nos Estados Unidos em 1977. O programa havia sido preparado, com antecedência, para ser emitido naquele final de semana. Ele foi transmitido, inicialmente, na noite da sexta feira anterior. Amoroso é uma das obras primas da discografia mundial, um dos melhores discos gravados por qualquer artista em todos os tempos. Ouça aqui no Improviso - O Jazz do Brasil  

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Amoroso, o disco de João Gilberto para uma ilha deserta



O disco Amoroso, que João Gilberto gravou nos Estados Unidos em 1977, é, exageros a parte, um dos melhores álbuns já lançados, em todos os tempos, por qualquer artista. Em Amoroso encontramos João Gilberto no auge de sua maturidade musical, apoiado por uma produção impecável e acompanhado, à perfeição, pelos arranjos de Claus Ogerman. O resultado é um produto extremamente sofisticado, sob uma desconcertante simplicidade aparente.

João Gilberto entrou nos estúdios Rosebud, em Nova York, para três sessões de gravações, em novembro de 1976. O experiente produtor Tommy LiPuma garantiu ao músico as mais perfeitas condições para seu trabalho. LiPuma tinha acabado de ganhar seu primeiro Grammy como produtor, com a faixa This Masquerade, do álbum Breezin' (1976), que ele produziu para o guitarrista George Benson. 

Foi o produtor LiPuma quem sugeriu o maestro alemão Claus Ogerman para escrever os arranjos e conduzir a orquestra nas gravações de Amoroso. No ano anterior, eles já haviam trabalhado em outro álbum emblemático na discografia da música brasileira, o Urubu (1976), de Antonio Carlos Jobim. Como no disco de Jobim, a orquestração de Claus Ogerman nunca é uma coadjuvante secundária. Ela aparece em primeiro plano, em Amoroso, com a bela cama de cordas, realçando o violão personalíssimo de João Gilberto.

O disco surpreende, logo de início, com as três canções “estrangeiras” que João Gilberto trouxe para seu repertório e para sua praia. A primeira delas é ‘S Wonderful, composta pelos irmãos Ira e George Gershwin, em 1927, para o musical Funny Face. A música ganhou um balanço de bossa nova e se tornou, na verdade, um samba cantado em inglês. O arranjo de Claus Ogerman também virou uma referência para as gravações posteriores desse tema.

O mesmo se passou com Estate, uma desconhecida canção do italiano Bruno Martino, que ganhou status de clássico, a partir de sua recriação por João Gilberto. Isso porque, na verdade, João Gilberto nunca foi um simples intérprete, na concepção tradicional do termo. Ele se apropria do tema, que recria, transforma e  devolve com sua própria assinatura. É o que acontece com o bolero Besame Mucho, outra das faixas marcantes do álbum Amoroso.

Na edição em vinil de Amoroso, o lado B é todo de canções do maestro Antonio Carlos Jobim. Lá estão versões definitivas de WaveCaminhos CruzadosTriste; e Zíngaro, que virou Retrato em Branco e Preto, depois de ganhar a belíssima letra de Chico Buarque de Holanda. Mais uma interpretação delicadíssima, em que João Gilberto quase recita a letra acompanhado do violão. É aquele disco para se levar para a ilha deserta, se tiver de ser apenas um.

No vídeo a seguir temos João Gilberto cantando Wave, em Amsterdam, em 1980, com a Dutch Metropole Orchestra executando o arranjo de Claus Ogerman

sábado, 6 de julho de 2019

João Gilberto, um gênio da raça brasileira se vai


Neste sábado, 06 de Julho, nos despedimos de João Gilberto. Mais que o músico, o cantor, o artista, nos deixa uma dessas pessoas que fazem a diferença na cultura, em nosso Mundo. Seu legado não é só a transformação promovida na música popular brasileira, com a criação da bossa nova. Ele inventou uma maneira nova de usar a voz e o violão, que revolucionou a maneira da música ser feita e ouvida. 

R.I.P. João Gilberto



Íntegra do show de 2008, em comemoração ao 50 anos da Bossa Nova, em São Paulo

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Moacir Santos, o mestre do afrojazz brasileiro



O grande maestro Moacir Santos é uma personalidade da cultura brasileira que merece sempre todas as nossas reverências.

A trajetória desse músico negro, nascido em Pernambuco, que terminou seus dias como um dos grandes compositores do cinema em Hollywood, é um exemplo de perseverança e determinação. Seu talento venceu as adversidades e o colocou como o mestre dos grandes mestres.

Nascido em 1926, na pequena Flores do Pajeú, Moacir Santos ficou órfão aos dois anos. Foi adotado por uma família branca, que lhe deu acesso a educação escolar e musical. De outra parte, porém, o menino negro sofria maus-tratos por parte de seus pais adotivos. Quando completou quatorze anos, ele não agüentou mais e fugiu de casa. Foi parar em Rio Branco, no Acre. 

Sua formação musical lhe proporcionou ali uma nova família. O professor Paixão, maestro da escola local, adotou o jovem, que além do saxofone, da clarineta e do trompete, ainda tocava o banjo, o violão e o cavaquinho. Quando Paixão mudou-se para Recife, levou Moacir Santos, junto com sua família. 

Jovem rebelde, Moacir acabou desentendendo-se com o padrasto e, mais uma vez, caiu na estrada. Entrou para a trupe de um circo e viajou todo o Nordeste, indo parar na Paraíba. Em João Pessoa foi contratado para comandar a Orquestra da Rádio Tabajara, substituindo Severino Araújo, que se mudava para o Rio. Tudo isso ele viveu, antes de completar dezoito anos de idade. 

Em 1948, com 22 anos, ele deixou o Nordeste para tentar a vida no Rio de Janeiro. Com o talento e a sorte, rapidamente ingressou como saxofonista na Orquestra da Rádio Nacional. Em pouco tempo, foi promovido a arranjador e regente, trabalhando ao lado de Radmés Gnatalli, Leo Perachi e Lírio Panichalli.

Muito aplicado, Moacir Santos foi estudar música clássica e teve como mestres Cláudio Santoro, Guerra Peixe e o maestro alemão Koellreuter. Depois de formado, Santos tornou-se o professor e formou uma nova geração de mestres, como Paulo Moura, Baden Powell, Sergio Mendes e João Donato, para citar alguns.

No início dos anos 60, Moacir Santos compôs algumas das trilhas sonoras do nascente Cinema Novo, como as de Seara Vermelha, Ganga Zumba Os FuzisEm 1967 foi convidado para trabalhar em Hollywood e transferiu-se para Los Angeles, onde viveu, compondo para o cinema, até o fim de seus dias, em 2006, aos 80 anos. 

Moacir Santos não tinha dado nome a suas composições, quando foi gravar seu primeiro disco. Ele as chamava de “coisas”. Inspirado na maneira erudita de catalogação musical, tipo sinfonia 125, Opus 3, número 10, resolveu que elas se chamariam a Coisa n.o 1; ou a Coisa n.o 4Coisa n.o 10 ou Coisa n.o 5 que ficou mais conhecida como Nanã. E assim surgiu seu disco Coisas, de 1965.

No vídeo a seguir, uma rara apresentação do maestro Moacir Santos, regendo a Banda Savana, na TV Educativa de São Paulo, com sua composição Maracatucutê.


Moacir Santos e Banda Savana - Maracatucutê