quarta-feira, 26 de setembro de 2018

Lucienne Renaudin Vary, revelação do clássico e do jazz


Falar de jovens prodígios musicais é quase sempre muito chato. Parece, que se está valorizando demais a alguém que apenas se destaca da média. Mas esse não é o caso da trompetista Lucienne Renaudin Vary, que aos 19 anos, vem colecionando os prêmios mais importantes da música na França. Dona de um talento realmente excepcional, ela se impõe como a grande revelação musical francesa tanto na música erudita, como no jazz.

A opção pelo trompete, Lucienne fez, ainda muito menina, aos nove anos de idade. Ela já estudava iniciação musical no Conservatório Le Mans. Fazia piano e teoria musical. Em uma das aulas de solfejo, dois professores foram apresentados às crianças, para mostrarem como soavam alguns instrumentos. Ao ouvir o trompete, ela conta que, se apaixonou, imediatamente, por sua sonoridade. 

A escolha logo demonstrou-se acertada, se as aulas de piano lhe causavam tédio, as lições de trompete a entusiasmavam muitíssimo. E os resultados vieram rápido. Com onze anos Lucienne ganhou o prestigioso concurso Selmer-Le Parnasse e ficou em terceiro lugar no Concurso Europeu de Jovens Trompetistas de Aleçon, em uma categoria para maiores de 14 anos. Sempre no campo da música clássica.

Aos 15 anos, Lucienne Renaudin Vary foi aceita no Conservatório Nacional Superior de Paris. Era a primeira vez na história da instituição que um estudante era admitido, para estudar, simultaneamente, os cursos de música clássica e de jazz. “Eu não poderia escolher entre o jazz e o clássico, para mim, os dois gêneros se completam. Eles são similares e, ao mesmo tempo, completamente diferentes”, reflete Lucienne.

Ela não consegue lembrar quando começou sua ligação com o jazz. Sabe que foi ouvindo Chet Baker, ainda bem menina, também. “Para mim, Chet Baker é um deus”, diz Lucienne. “Quando ele sopra o trompete, parece que está cantando. Eu também me sinto assim, quando toco, como se estivesse cantando aquelas notas”.

Em 2016, Lucienne Renaudin Vary ganhou o importante prêmio Victoire de Música Clássica como Solista Instrumental Revelação, na França. Em 2017 gravou seu primeiro álbum, com um repertório composto por temas eruditos e clássicos do jazz. Entre estes destacam-se My Favourite Things e Summertime. Das peças eruditas temos Les Soirées Musicales, de Rossini e a apresentação do Ato 1 da ópera Giustino, de Vivaldi.

Neste 2018, Lucienne Renaudin Vary foi a atração de abertura do Festival Jazz in Marciac, na França, um dos eventos mais importantes do gênero, na Europa. É um trecho deste show que temos no vídeo a seguir. Ela cantando Águas de Março, de Tom Jobim. O repertório do Concerto contou ainda com várias canções gravadas por Chet Baker e uma belíssima interpretação de Retrato em Branco e Preto, no trompete de Lucienne Renaudin Vary. 



quarta-feira, 12 de setembro de 2018

Tom Waits com Marc Ribot em "Bella Ciao (Goodbye Beautiful)" contra Trump


Tom Waits participa do novo álbum de seu antigo guitarrista Marc Ribot. Dois músicos nada conformistas trazem a canção da resistência italiana para o contexto da Era Trump. O vídeo reforça  a luta pela afirmação dos direitos individuais. Songs of Resistance 1942-2018 é o título do disco que estará disponível nesta sexta feira (14/09) nas plataformas digitais.


O presente de Miles Davis para John Coltrane



O mito do saxofonista John Coltrane revive, em 2018, com dois importantes lançamentos. O primeiro é a caixa The Final Tour: The Bootleg Series Vol. 6, da Sony/Legacy, que registra a turnê do Quinteto de Miles Davis pela Europa, em 1960. O outro é o álbum duplo da Impulse! Both Directions at Once: The Lost Album, em que John Coltrane lidera seu clássico quarteto, em sessões gravadas no legendário estúdio de Rudy Van Gelder, em 1963.

John Coltrane não queria participar da turnê europeia de Miles Davis. O saxofonista tinha dado por encerrada sua presença nesse grupo. Coltrane tinha acabado de lançar seu álbum Giant Steps e partia para investir em sua carreira como líder. Ele chegou a indicar o jovem Wayne Shorter para substituí-lo, mas Davis, naquele momento, não aceitou.

Miles Davis insistiu para que John Coltrane seguisse com a banda, que ficou conhecida como o Primeiro Quinteto de Miles Davis. Com eles estavam Wynton Kelly, no piano; Paul Chambers, no baixo; e Jimmy Cobb, na bateria. O havia terminado de gravar o mítico álbum Kind of Blue, que seria a base da turnê. Miles queria Coltrane porque o quinteto estava em seu ponto mais alto, o que lhe dava a certeza de que a turnê sairia bem.

Contrariado, John Coltrane acabou aceitando e foi com Miles Davis para a Europa. Quando chegaram em Paris, em agradecimento, Miles presentou Coltrane com um saxofone soprano comprado em um antiquário. Jimmy Cobb, o baterista da banda, contou que John Coltrane passou o resto da viagem experimentando os sons do novo instrumento, quase sem falar com ninguém.

E nas apresentações da turnê, John Coltrane roubou a cena, com seu velho sax tenor. Miles Davis parecia um sidemanem sua própria banda, como se constata em The Final Tour. Os solos de Coltrane eram mais longos e mais ousados que os de Miles. Sua performance causou estranhamento na plateia, que reagiu entre o choque e o entusiasmo. O longo aplauso para Coltrane em All of You, no show de Paris, é a prova disso. 

O sax soprano que ganhou de Miles Davis acompanhou John Coltrane pelo resto de sua vida. Tornou-se um instrumento importante em sua obra. É ele que está presente na recém descoberta Untitled Original 11383, de The Lost Album. A composição inédita foi encontrada, depois de cinquenta anos, entre as fitas esquecidas no porão da casa de Juanita Naima, primeira mulher de Coltrane.

No vídeo a seguir temos John Coltrane, com o grupo de Miles Davis tocando o tema Walkin’. É uma apresentação gravada para a tevê, durante a passagem da turnê pela Alemanha, em 1960. Miles Davis, que tinha brigado com o produtor Norman Granz, não apareceu para a gravação. O show completo tem ainda as participações do saxofonista Stan Getz e do pianista Oscar Peterson.