sexta-feira, 28 de novembro de 2014


O poderoso polegar de Wes Montgomery, o Mago da Guitarra no Jazz

Os puristas do jazz não aceitaram que Wes Montgomery “se rendesse à música comercial”. Montgomery não se preocupava com isso.
Wes Montgomery tinha dezenove anos quando ouviu a gravação de Solo Flight, com a Orquestra de Benny Goodman, apresentando Charlie Christian na guitarra. Aquele som o impressionou tanto que ele, imediatamente, deu um jeito de comprar uma guitarra e um amplificador. E começou a estudar, sozinho, como tocar o instrumento.
Comprou todos os discos de Christian que encontrou e passou a repetir, nota por nota, cada um dos solos da guitarra do músico. Wes Montgomery já estava casado e trabalhava como soldador durante o dia. Por isso, estudava a guitarra à noite.
Como os vizinhos reclamavam do “barulho”, ele buscou uma maneira de suavizar o ataque às cordas do instrumento. Abandonou a palheta e passou a tocar diretamente com o polegar sobre as cordas. Assim ele descobriu, por puro acaso, um novo som para a guitarra, que resultou mais suave e agradável aos ouvidos.
Em um ano, Wes Montgomery estava tocando nos clubes de jazz de Indianápolis, sua cidade natal, imitando os solos de Charlie Christian. O contato com outros músicos, ampliou suas possibilidades, fazendo com que desenvolvesse seus próprios conceitos musicais.
Aliado ao estilo nada ortodoxo de tocar a guitarra com o polegar, Wes Montgomery aperfeiçoou o modo de tocar em oitavas, fazendo passagens de acordes com grande fluência, como se fossem notas simples. Essas nuances lhe permitiram criar solos surpreendentes, repletos de detalhes ousados.
Wes Montgomery, o Mago da Guitarra no Jazz (Foto: Divulgação)

Wes Montgomery chegou ser uma celebridade local em Indianápolis. Mas para garantir o sustento da família, que sempre crescia, continuava trabalhando como soldador na fábrica de peças para rádios. Seu expediente lá era de sete da manhã às três da tarde.
O músico voltava para casa e descansava até às oito da noite. De nove às duas da manhã, Montgomery tocava no Turf Bar. E entre as duas e meia e as cinco, dava expediente no Missile Room, outro clube de jazz da cidade. Essa foi sua rotina durante muitos anos.
Em 1959, Orrin Keepnews montou a Riverside Records e buscava talentos para sua nova gravadora. O saxofonista Cannonball Adderley ouviu Wes Montgomery tocando no Missile Room e ligou para o produtor, em Nova York. Disse a ele que havia ali um Mago da Guitarra, que não havia ainda se revelado.
Wes Montgomery foi imediatamente contratado, lançando no mesmo ano o sei primeiro álbum, The Wes Montgomery Trio, que abre com o tema ‘Round Midnight. Os críticos consideram que a fase da Riverside Records foi a mais importante na carreira de Montgomery. Ali ele se tornou o guitarrista mais influente na história do jazz, estabelecendo uma nova linguagem para o gênero.
Quando a Riverside faliu, em 1964, o produtor Creed Taylor levou Wes Montgomery para a gravadora Verve e depois para a A&M. Seu som suave e aveludado tornou-se mais pop e seu repertório passou a incluir os sucessos do momento, mais conhecidos do grande público.
Os puristas do jazz não aceitaram que Wes Montgomery “se rendesse à música comercial”. Montgomery não se preocupava com isso. Dizia que adorava o jazz mas precisava dar de comer a seus sete filhos.
Wes Montgomery morreu jovem, aos 45 anos, em 1968, de um infarto fulminante, no auge de seu sucesso. Aqui o vemos em um vídeo de 1966, gravado na Bélgica,  com Harold Mabern, no piano; Arthur Harper, no baixo; e Jimmy Lovelace, na bateria. O tema é a sua composição Twisted Blues.

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O jazz fora do tempo de Dave Brubeck - Artigo no Blog do Noblat


A crítica à primeira apresentação de seu álbum Time Out (1959), em Nova York frustrou muito o pianista Dave Brubeck. Ele se sentiu absolutamente incompreendido quando, no dia seguinte ao show, leu no jornal que os músicos do Quarteto Brubeck eram incapazes de se manterem no mesmo tempo da música. Tocava cada um em uma batida.

O uso da polirritmia era a novidade absoluta que Dave Brubeck incorporava ao jazz e os críticos da época não compreendiam. Naquela noite, em especial, no Carnegie Hall, Brubeck havia saído exultante. Ele considerava que o grupo tinha chegado à perfeição. Todos tocando o mesmo tema, em diferentes tempos, ao mesmo tempo e cada um segurando sua batida individual todo o tempo. Para ele, foi uma apresentação fantástica.

O conceito da polirritmia, Dave Brubeck desenvolveu na adolescência, trabalhando na fazenda de gado de seu pai, na Califórnia. Durante os longos percursos a cavalo pelas terras do rancho, ele ia ouvindo aquele pocotó-pocotó de cascos o tempo inteiro. Para se distrair, começou a jogar com os ritmos da cavalgada, pensando em uma batida de contraponto.

Como o cavalo mantinha seu ritmo, depois do primeiro contraponto criado, Dave Brubeck partia para a criação de uma terceira batida, de encontro às outras duas. A brincadeira ia ficando cada vez mais difícil e desafiadora. “Mas como você não tinha mesmo muita coisa para fazer nessas horas, podia muito bem tentar fazer isso” contava ele.

Contudo, nesse período, a música não estava nos planos de carreira para Dave Brubeck. Ele tinha lições de piano com sua mãe, desde pequeno, mas, profissionalmente, se preparava para ser veterinário e ajudar seu pai na fazenda.

Em uma aula de zoologia, no entanto, o professor chamou a atenção do jovem, que não se concentrava na matéria. Sua cabeça estava do outro lado da rua, no conservatório. “Por favor, vá embora e pare de desperdiçar seu tempo e o meu”, se disse o mestre.

E assim ele ingressou na Faculdade de Música, da Universidade do Pacífico. Mas quase foi expulso antes do fim do curso, quando um professor descobriu que Brubeck não conseguia ler música. Nunca tinha aprendido, talvez, pela acentuada miopia.

Os outros professores o defenderam. Disseram que sua habilidade no domínio do contraponto e da harmonia mais do que compensava essa deficiência. Mas a reitoria temia um escândalo se deixasse um aluno se graduar em música sem saber ler pautas. Chegaram a um acordo quando Brubeck prometeu que nunca iria dar aulas e assim não seria posto a prova.

Quando montou seu famoso quarteto, Dave Brubeck já tinha muito claro o que queria fazer. Foi buscar os elementos das músicas orientais e ritmos africanos, misturando tudo com o jazz. Experimentando mesclas ainda desconhecidas como na peça Blue Rondo a la Turk, do clássico álbum Time Out.

Ainda que os críticos não o tenham compreendido, o disco foi total sucesso de público. Foi o primeiro álbum de jazz a alcançar a categoria de Disco de Ouro, com mais de um milhão de cópias vendidas. A música principal, que marca o estilo do grupo, é Take Five. Neste vídeo, temos uma gravação realizada na Bélgica, em 1964. O Dave Brubeck Quartet está formado por Paul Desmond, no sax alto; Eugene Wright, no baixo; Joe Morello, na bateria; e Dave Brubeck, no piano.