terça-feira, 21 de abril de 2020

O Adeus ao Jazz Brasileiro de Claudio Roditi

Na madrugada de sábado, 17 de janeiro, morria nos Estados Unidos o trompetista Claudio Roditi, um dos maiores músicos brasileiros do jazz. Aos 73 anos, Roditi deixa uma obra composta por mais de 30 álbuns, iniciada em 1984, com o disco Red on Red. Em seu trompete, jazz e samba se misturavam harmonicamente, em continuidade à melhor tradição criada pelos músicos que criaram o novo gênero, no Beco das Garrafas, em inícios dos anos 60.

Nascido no Rio de Janeiro e criado em Varginha, interior de Minas, Claudio Roditi estudou música desde pequeno. Começou com aulas de piano clássico, até que aos 12 anos descobriu o jazz, escutando os discos de Louis Armstrong, Charlie Parker, Miles Davis, Dizzy Gillespie e Kenny Dohan, do acervo de um tio seu.  Aos 18 anos voltou para Rio. Chegou lá em plena efervescência do samba jazz. Roditi costumava lembrar das jams sessionscom os trios de Dom Salvador, com o Sambalanço, o Tamba, entre outros.

No início dos anos 70, Claudio Roditi mudou-se para os Estados Unidos. Foi estudar no famoso Berklee College of Music, em Boston, a mais prestigiosa universidade do jazz. Lá estavam também os brasileiros Victor Assis Brasil, Zeca Assumpção e Roberto Sion. Tocando nos bares da cidade, ele conheceu os grandes Dizzy Gillespie e Paquito D’Rivera. Os músicos o incentivaram a estabelecer-se em Nova York, ao fim do curso e encarar uma carreira profissional por lá.

Roditi tornou-se um dos principais solistas da United Nations Orchestra, de Dizzy Gillespie e, depois, integrou a banda de Latin Jazz liderada pelo saxofonista Paquito D’Rivera. A partir daí, sua carreira deslanchou e Claudio Roditi passou a ser reconhecido como um dos melhores trompetistas do jazz contemporâneo. Dono de uma linguagem própria, no trompete e no flughellhorn, ele surpreendia o mundo com sua maneira de transmutar em samba os clássicos do jazz, como a peça In a sentimental mood, de Duke Ellington.

Da discografia mais recente de Claudio Roditi, toda editada nos Estados Unidos, destacam-se os álbuns Brazilianse x 4(2009), que foi indicado ao Grammy naquele ano; Simpático(2010), o mais autoral, com todas a composições de sua autoria;  e Bons Amigos (2011), seu último disco de carreira. Todos publicados pelo selo Resonance Records, de Los Angeles.

O único disco de Claudio Roditi lançado no Brasil foi Impressions, editado em 2006 pelo selo Biscoito Fino. O álbum está dedicado especialmente à interpretação de composições do saxofonista John Coltrane, como NaimaGiant Steps e a própria Impressions

Nesse disco está ainda o tema O Monstro e a Flor, uma feliz parceria de Roditi com o guitarrista Ricardo Silveira, outro músico brasileiro formado em Berklee. A música é uma lição do que há de melhor do samba jazz. Ela está no vídeo a seguir, gravado no Shanghai Jazz, de New Jersey, com Claudio Roditi e seu Quarteto. Descanse em Paz, Roditi. Sua música estará sempre com a gente.