segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Arthur Maia, o saudoso gigante do baixo



Aos quatro anos o garoto Arthur já batucava nas panelas da casa, acompanhando as músicas que ouvia no rádio. Aos cinco, ganhou sua primeira bateria e começou a ter aulas do instrumento. Com oito anos já tinha uma banda e tocava nas festas e eventos, no Rio de Janeiro. Mas aos 14 anos, influenciado pelo tio Luizão Maia, o jovem Arthur Maia trocou a bateria pelo baixo e se tornou um dos maiores mestres desse instrumento no Brasil.

O baixista Luiz Maia era já uma lenda na cena musical brasileira. Foi ele a primeira influência do jovem Arthur Maia. E foi, também, quem lhe indicou para o primeiro emprego, na banda de Ivan Lins, em 1986.  Com pouco mais de 15 anos, logo Arthurzinho já estava tocando com Luiz Melodia, Marcio Montarroyos, Jorge Benjor, músicos que eram seus ídolos.

Outra influência fundamental para o Arthur Maia foi o baixista Jaco Pastorius, que ele o viu tocando com o Weather Report no Rio, em 1980. De Pastorius, incorporou o baixo elétrico fretless, que não tem trastes no braço. A partir daí desenvolveu sua própria linguagem musical, levando para o baixo elétrico as técnicas adquiridas com o estudo do baixo acústico.  

Arthur Maia, ainda muito jovem, se tornou um baixista dos mais requisitados pelos grandes artistas brasileiros como Djavan, Ney Matogrosso, Gal Costa, Caetano Veloso, Marisa Monte, Roberto Carlos, Dominguinhos entre tantos outros. Tocar com diferentes artistas de todos os gêneros musicais, lhe rendeu uma formação ampla e influências ecléticas. 

Em 1985, Maia passou a integrar o mais importante grupo de jazz brasileiro, o Cama de Gato, junto com Paschoal Meirelles, Mauro Senise e Rique Pantoja. Na mesma época, ele tocava rock, na banda de Lulu Santos; samba, com Martinho da Vila; e MPB no grupo de Ivan Lins.

Em suas composições, Arthur Maia incorpora todas essas influências, fazendo uma fusão do jazz com o samba, o funk e até o reggae. Integrante durante 15 anos da banda de Gilberto Gil, Maia relatava como havia sido marcante ter gravado na Jamaica, o álbum Kaya N'Gan Daya (2002), o tributo de Gil a Bob Marley. 

Em sua carreira solo, Arthur Maia estreou com o álbum Maia, em 1991, que lhe rendeu o Prêmio Sharp Instrumental. Seu último trabalho em disco foi o álbum O Tempo e a Música, editado em 2011, que soa, hoje, como uma espécie de testamento. Nele, se destacam as composições Frevo do Compadre e To Nico. E, também, o arranjo de Maia para o choro Brejeiro, de Ernesto Nazareth, em que o baixo sola, conduzindo a melodia.

Arthur Maia faleceu prematuramente em dezembro de 2018, aos 51 anos. Em julho deste ano o selo Biscoito Fino lançou o DVD Arthur Maia Ao Vivo, gravado em 2015, em Niterói. É deste trabalho o vídeo a seguir, com o tema Arthur e o Gigante, composta para Arthur Maia por Willian Magalhães, da Banda Black Rio. 


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O saxofonista Joshua Redman revive Velhos e Novos Sonhos




O quarteto Old and New Dreams foi um grupo de jazz singular, formado no final dos anos 70 por ex-membros da banda do saxofonista Ornette Coleman. Eles recuperaram o antigo formato do revolucionário quarteto de Coleman, com Charlie Haden, no baixo; Ed Blackwell, na bateria; Don Cherry, no trompete; e o saxofonista Dewey Redman, no lugar de Ornette Coleman. O grupo havia ficado órfão, quando Coleman resolveu montar uma nova banda, toda elétrica.

O formato do quarteto sem piano - em que apenas o baixo e a bateria sustentam a sessão rítmica, para os solos do trompete e do saxofone - já é, por si só, inusitado. O mais famoso grupo desse tipo foi o que reuniu Chet Baker e Gerry Mulligan, nos anos 50. Ornette Coleman repetiu essa formação no início dos anos 60, com seu sax alto fazendo contraponto, e se complementando, com o poket trumpet de Don Cherry. Foi o auge do free jazz, o jazz de vanguarda, que levou o improviso a seus extremos.

Com Dewey Redman no saxofone, o Old and New Dreams, ainda que seguindo o estilo de improvisação do free jazz, voltou-se para uma abordagem mais leve que a do grupo de Coleman. O quarteto gravou seu primeiro álbum em 1976, para o selo italiano Black Saint. No repertório, temas do antigo quarteto de Ornette Coleman e novas composições do grupo, como a que dá nome ao disco, escrita por Redman, Old and New Dreams.

O quarteto teve duração relativamente curta, com reuniões esporádicas, uma vez que seus quatro integrantes eram líderes em suas próprias bandas. Eles gravaram apenas quatro discos, no período de 1976 e 1987, todos na Europa e não nos Estados Unidos. 

O quarteto Old And New Dreams com Charlie Haden, no baixo; Don Cherry, no trompete; Ed Blackwell, na bateria;  e Dewey Redman, no saxofone

Em 1979 o selo de jazz alemão ECM lançou outro álbum com o mesmo nome do grupo, Old and New Dreams e em 1980 editou Playing, gravado ao vivo. O último álbum do quarteto foi A Tribute to Blackwell, lançado pelo selo italiano Black Saint, em 1987.

Em 2018, o filho de Dewey Redman, o também saxofonista Joshua Redman, inspirado no lendário grupo de seu pai o formou o quarteto Still Dreaming. Com ele estão o trompetista Ron Miles, seguidor de Don Cherry, até no pocket trumpet; o baixista Scott Colley, que foi aluno de Charlie Haden; e o baterista Brian Blade, influenciado diretamente pela batida de Ed Blackwell.

Joshua Redman não faz um cover da banda de seu pai, ele recria a atmosfera do grupo, na perfeita integração de seus duetos com Ron Miles, como fazia Dewey com Don Cherry. A maioria das músicas que integram o álbum Still Dreaming (Nonesuch -2018) são composições originais de Joshua, como Blues For Charlie, sua homenagem ao baixista Charlie Haden. Do Old and New Dreams, o novo quarteto gravou Playing, composição de Charlie Haden e Comme Il Faut, de Ornette Coleman.

No vídeo a seguir temos a Joshua Redman e o quarteto Still Dreaming com o tema Unanimity, durante a apresentação no Festival Jazz in Marciac, na França, em 2017.