sábado, 9 de maio de 2020

Ginger Baker, o baterista que levou o jazz para o rock


O baterista Ginger Baker, falecido aos 80 anos, em seis de outubro de 2019, foi um dos responsáveis pela definição do estilo da bateria no rock moderno. Sua performance no power trio Cream, formado em 1966, com o baixista Jack Bruce e o guitarrista Eric Clapton, influenciou todas as gerações de bateristas que vieram depois. Baker, no entanto, dizia que nunca tocou rock and roll, ele era um baterista de jazz. E do jazz vinha sua maneira especial de tocar, que transformou o mundo do rock.

Peter Edward Baker começou a tocar bateria aos 15 anos de idade, em Lewisham, Sul de Londres, onde nasceu. Lá ele ganhou o apelido de Ginger, por causa de sua cabeleira ruiva e revolta. Ginger Baker fez carreira na noite londrina tocando em grupos de jazz e absorvendo as influências bebop americano. Ele incorporou a seu estilo as batidas desenvolvidas pelos mestres do jazz como Art Blakey, Max Roach, Elvin Jones e Philly Joe Jones. 

Com a advento da onda do blues na Inglaterra, no início dos anos 60, Baker foi convidado para tocar com a banda Blues Incorporated, onde conheceu o baixista Jack Bruce, em 1960. De seu temperamento complicado, Baker estabeleceu uma relação tumultuada com Bruce, logo de início. Apesar disso, anos depois, em 1966, eles organizaram a banda Cream, junto com Eric Clapton. 

O Cream desenvolveu uma  revolucionária fusão entre o blues, o jazz e o rock, marcada pela batida jazzística da bateria de Ginger Baker. Ele ainda inovou no formato do instrumento, montando o conjunto com dois bumbos, que imprimia um grave mais profundo ao seu som. A banda gravou quatro álbuns, vendeu mais de 15 milhões de discos, em seus apenas dois anos de carreira. Com o Cream, Baker gravou o seu primeiro longo solo de bateria em Toad, faixa do álbum de estreia do grupo Fresh Cream, de 1967. 

De sua época no Cream, Ginger Baker costumava dizer que ele não tocava, e nunca tinha tocado, rock and roll. “O Cream eram dois músicos de jazz e um guitarrista de blues, tocando música improvisada. A gente nunca tocava a mesma coisa, duas noites seguidas. Aquilo era jazz”. argumentava Baker. 

Mas Ginger Baker pôde dedicar-se completamente ao jazz nos anos noventa, quando foi morar nos Estados Unidos. Em 1994 ele formou o Ginger Baker Trio, com Charlie Haden no baixo e Bill Frisell, na guitarra. O trio gravou dois álbuns, especialmente marcantes na discografia do jazz. O primeiro, Going Back Home, de 1994, em que se destacam os temas Ramblin Ginger Blues. O segundo, Falling of The Roof, de 1996, que tem a faixa título baseada em um tema que Ginger Baker escreveu depois de cair do telhado, que estava consertando, em sua fazenda no Colorado.

No vídeo a seguir, temos o Ginger Baker Trio, em uma apresentação no Festival de Jazz de Frankfurt, na Alemanha, em 1995. O tema é In the Moment, em que Ginger Baker desenvolve um inspirado solo de sua bateria personalíssima. Descanse em Paz, Ginger Baker.

Morre Lyle Mays, o genial pianista do Pat Metheny Group



O pianista Lyle Mays, que morreu no último dia 10 de fevereiro, aos 66 anos, era grande parceiro do guitarrista Pat Metheny. Mays era o nome oculto no Pat Metheny Group, dividindo com o guitarrista todas as composições do grupo e respondendo pela maior parte de seus arranjos musicais. Pilotando o piano, os teclados e os sintetizadores, Lyle Mays levou para a banda a sonoridade da vanguarda contemporânea, que era a marca registrada do grupo.

Formado em 1977, o Pat Metheny Group incorporou ao seu estilo de jazz elementos do rock e de outras músicas do mundo, como o samba brasileiro. O grupo ganhou 11 prêmios Grammy em seus 33 anos de atividade. O último trabalho de Lyle Mays com Pat Matheny foi a gravação do álbum The Way Up, editado em 2005.

“Lyle foi um dos maiores músicos que eu pude conhecer” escreveu Pat Metheny em suas redes sociais, despedindo-se do amigo. “Durante mais de trinta anos, cada momento que dividimos, fazendo música, foi especial. Desde as primeiras notas que tocamos juntos, encaixamos, imediatamente. Sua enorme inteligência e imensa sabedoria musical mostravam quem ele era em cada momento. Eu vou sentir muita falta dele, com todo meu coração”.

Além da longa parceria com Pat Metheny, Lyle Mays desenvolveu uma carreira solo, que lhe rendeu quatro indicações para os Grammy. Ele ainda compôs, produziu e tocou com outros importantes músicos e grupos como Earth, Wind & Fire; Bobby McFerrin, Rickie Lee Jones, Joni Mitchell, entre outros.

Lyle Mays havia deixado a música, como profissão, em 2011. Ele dizia que a música - na verdade, a indústria musical - o havia deixado, pois ninguém mais queria pagar para ouvir música. Nos últimos tempos, Mays dedicava-se a desenvolver softwares e fornecer consultoria de informática, atividade alternativa que havia adotado ao longo do tempo.

Uma síntese do trabalho solo de Lyle Mays é o álbum Street Dreams, de 1988, com as peças: ChorinhoPossible Straight e a experimental Street Dreams 2. No vídeo a seguir temos Lyle Mays e seu grupo, em uma de suas últimas apresentações, no evento TEDxCaltech, no Instituto de Tecnologia da California, em janeiro de 2011. Aqui ele explora os algoritmos e usa os computadores para desenhar os improvisos sobre o tema Before You Go!, composição de Lyle Mays, que tem o samba como inspiração.