segunda-feira, 17 de novembro de 2014

O jazz fora do tempo de Dave Brubeck - Artigo no Blog do Noblat


A crítica à primeira apresentação de seu álbum Time Out (1959), em Nova York frustrou muito o pianista Dave Brubeck. Ele se sentiu absolutamente incompreendido quando, no dia seguinte ao show, leu no jornal que os músicos do Quarteto Brubeck eram incapazes de se manterem no mesmo tempo da música. Tocava cada um em uma batida.

O uso da polirritmia era a novidade absoluta que Dave Brubeck incorporava ao jazz e os críticos da época não compreendiam. Naquela noite, em especial, no Carnegie Hall, Brubeck havia saído exultante. Ele considerava que o grupo tinha chegado à perfeição. Todos tocando o mesmo tema, em diferentes tempos, ao mesmo tempo e cada um segurando sua batida individual todo o tempo. Para ele, foi uma apresentação fantástica.

O conceito da polirritmia, Dave Brubeck desenvolveu na adolescência, trabalhando na fazenda de gado de seu pai, na Califórnia. Durante os longos percursos a cavalo pelas terras do rancho, ele ia ouvindo aquele pocotó-pocotó de cascos o tempo inteiro. Para se distrair, começou a jogar com os ritmos da cavalgada, pensando em uma batida de contraponto.

Como o cavalo mantinha seu ritmo, depois do primeiro contraponto criado, Dave Brubeck partia para a criação de uma terceira batida, de encontro às outras duas. A brincadeira ia ficando cada vez mais difícil e desafiadora. “Mas como você não tinha mesmo muita coisa para fazer nessas horas, podia muito bem tentar fazer isso” contava ele.

Contudo, nesse período, a música não estava nos planos de carreira para Dave Brubeck. Ele tinha lições de piano com sua mãe, desde pequeno, mas, profissionalmente, se preparava para ser veterinário e ajudar seu pai na fazenda.

Em uma aula de zoologia, no entanto, o professor chamou a atenção do jovem, que não se concentrava na matéria. Sua cabeça estava do outro lado da rua, no conservatório. “Por favor, vá embora e pare de desperdiçar seu tempo e o meu”, se disse o mestre.

E assim ele ingressou na Faculdade de Música, da Universidade do Pacífico. Mas quase foi expulso antes do fim do curso, quando um professor descobriu que Brubeck não conseguia ler música. Nunca tinha aprendido, talvez, pela acentuada miopia.

Os outros professores o defenderam. Disseram que sua habilidade no domínio do contraponto e da harmonia mais do que compensava essa deficiência. Mas a reitoria temia um escândalo se deixasse um aluno se graduar em música sem saber ler pautas. Chegaram a um acordo quando Brubeck prometeu que nunca iria dar aulas e assim não seria posto a prova.

Quando montou seu famoso quarteto, Dave Brubeck já tinha muito claro o que queria fazer. Foi buscar os elementos das músicas orientais e ritmos africanos, misturando tudo com o jazz. Experimentando mesclas ainda desconhecidas como na peça Blue Rondo a la Turk, do clássico álbum Time Out.

Ainda que os críticos não o tenham compreendido, o disco foi total sucesso de público. Foi o primeiro álbum de jazz a alcançar a categoria de Disco de Ouro, com mais de um milhão de cópias vendidas. A música principal, que marca o estilo do grupo, é Take Five. Neste vídeo, temos uma gravação realizada na Bélgica, em 1964. O Dave Brubeck Quartet está formado por Paul Desmond, no sax alto; Eugene Wright, no baixo; Joe Morello, na bateria; e Dave Brubeck, no piano.



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