sexta-feira, 8 de agosto de 2014

João Donato – Rei do Mambo aos 80 anos, por Flávio de Mattos

João Donato passou a vida toda sendo cult e finalmente agora é pop, aos 80 anos. Adorado pelos músicos, aclamado pela crítica, o seu reconhecimento pelo público era absolutamente escasso. Sua música era conhecida, mas o músico, não. As composições mais famosas eram atribuídas sempre aos parceiros ou aos intérpretes.
As pessoas não sabiam que A PazBananeira; e Lugar Comum, por exemplo, tinham melodia de João Donato, com letra de Gilberto Gil. Mesmo A Rã, êxito dos tempos iniciais da bossa nova, não raro, era atribuída a João Gilberto, amigo e parceiro, mas em outra peça, Minha Saudade.
Dois artistas rompedores, Donato e João Gilberto, nos anos 50, integravam a mesma turma de jovens músicos, que tinham o jazz como referência. Os dois eram, igualmente rejeitados na noite, pois não faziam uma música fácil de ouvir e dançar, como queriam nas casas noturnas.
À frente de seu tempo, João Donato fazia um piano mais batucado, forte ritmicamente, contrário ao piano dedilhado e meloso, mais ao gosto do público. Isso lhe rendia problemas e lhe reduziam os contratos. Com as oportunidades se fechando no Brasil, Donato foi para os Estados Unidos, a fim de fazer jazz.
Para sua frustração, o início dos anos 60 na América também não estava bom para os artistas. Mas ele descobre as orquestras de música latina. Eram esses grupos que estavam empregando os músicos de jazz naquele momento. Primeiro João Donato consegue trabalho com Cal Tjader e logo torna-se o pianista da big band do percusionista cubano Mongo Santamaría.
Se antes a música de João Donato já tinha uma grande mistura de influências, ganha, ainda, a do jazz afro-cubano. Além de Mongo Santamaría, Donato tocou com todos os grandes do gênero, como Tito Puente, Ralph Peña, Eddie Palmieri e Johnny Martinez. No álbum, Más Sabroso, de 1961, está uma parceria sua com Mongo Santamaría em ritmo de pachanga. A peça Entre Amigos.
Essa influência latina marcou para sempre o trabalho de João Donato. Ela pode ser percebida na afrobaiana Patumbalacundê, do álbum Lugar Comum, de 1975. E em suas baladas aboleradas, como Nunca Mais, do disco Managarroba, de 2002.
Contudo, toda a latinidade do jazz de João Donato está sintetizada no álbum instrumental Sambolero. O trabalho lhe rendeu o Grammy de melhor disco de jazz latino de 2010, com absoluta justiça. Nele, o piano suingado de Donato revisita seu repertório, com Luiz Alves, no baixo; e Robertinho Silva, na bateria.
Para celebrar seu aniversário, que será no próximo dia 17 deste mês, fica aqui João Donato com seu Sambolero. Longa vida ao grande mestre.

Flavio de Mattos, jornalista. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço:senado.leg.br/radio

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