sexta-feira, 22 de agosto de 2014

Billie Holiday e os três tenores, por Flávio de Mattos, no Blog do Noblat

MÚSICA

A presença do saxofone na linguagem do jazz foi estabelecida, basicamente, por Coleman Hawkins, seguido de perto por Ben Webster e Lester Young. Os três foram os mais importantes tenores da Era do Swing, iniciada nos anos de 1920.
Os caminhos dos três tenores sempre se cruzaram e sempre cruzaram, também, com o de Billie Holiday. Todos, inclusive a cantora, confessadamente influenciados pela maneira de tocar o trompete, criada por Louis Armstrong.
Coleman Hawkins foi quem tirou o sax tenor do puro acompanhamento para lhe dar protagonismo como solista. Hawkins tinha 19 anos e tocava com a orquestra de Fletcher Henderson. No grupo estava Louis Armstrong, já mais velho, com 22 anos. É o ano de 1923 e, por essa época, Ben Webster e Lester Young tinham 14 anos e participavam da Young Family Band.
Pouco mais de dez anos depois estavam todos em Nova York. Lester Young contratado para substituir Coleman Hawkins, na orquestra de Fletcher Henderson. Em 1934 ele também deixa o grupo e é substituído por Ben Webster.
Billie Holiday, então com 19 anos, cantava em um clube no Harlem. Já era profissional desde os 15 anos. Lá ela conheceu Lester Young, durante uma jam session. Os dois ficaram muito amigos e juntos ingressaram na Orquestra de Count Basie. Young, com seu sax tenor, ganhou destaque como o principal solista e Billie Holiday como crooner.
Ben Webster, foi contratado pela orquestra de Duke Ellington. E também tornou-se o principal solista da orquestra. Enquanto isso acontecia em Nova York, Coleman Hawkins passava uma temporada na Europa, colocando seu sax a serviço das bandas de lá.
Nos anos seguintes, os três tenores acompanharam Billie Holiday nas mais diversas ocasiões, em gravações e shows. Em 1957, a CBS colocou os quatro juntos em um especial para a televisão. Eram mais de 20 anos tocando juntos, todos se conheciam muito bem.
A peça escolhida foi Fine and Mellow, um blues composto pela própria Billie Holiday. A banda tinha ainda, um jovem Gerry Mulligan, no sax baixo; Roy Eldridge e Doc Cheatham nos trompetes; Vic Dikenson, no trombone; Mal Waldron, no piano; Milt Hinton, no baixo; e Osie Johnson, na bateria.
Billie Holiday possuía um estilo único de cantar, inspirado no próprio fazer do jazz, jogando com as frases e com o tempo. Ela dizia que não se sentia cantando, mas sim tocando um instrumento, como o sax ou o trompete. “Eu tento improvisar, como Les Young ou Louis Armstrong. O que sai, é o que eu sinto na hora”, Billie Holiday costumava explicar.
É isso o que vemos e ouvimos neste vídeo. O mais puro jazz, em todo seu esplendor.


Flavio de Mattos, jornalista, escreverá aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço:senado.leg.br/radio

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