terça-feira, 1 de julho de 2014

O trompetista que Conceição me apresentou - Flavio de Mattos em Blog do Noblat


Fuçando um dia a sessão de jazz da Modern Sound, o sempre pranteado templo da música no Rio de Janeiro, encontro um cd de um trompetista que tem em seu repertório o tema Conceição. Perguntei ao vendedor se era a Conceição do Cauby, a que “se subiu, ninguém sabe, ninguém viu”? Era a mesma. O disco se chamava Day Waves, e o músico, Claudio Roditi.
O cd, de 1993, era o primeiro trabalho que Roditi gravava no Brasil, depois de mais de vinte anos vivendo nos Estados Unidos. Ele tinha ido para Boston, em 1970, estudar na Berklee College of Music, e por lá ficou. Depois de formado, mudou-se para Nova York onde ganhou respeito e prestígio na cena jazz americana.
Quando veio gravar Day Waves, Claudio Roditi já tinha em sua bagagem cinco álbuns como líder e muitas participações em outros discos. Tinha sido solista da United Nations Orchestra de Dizzy Gillespie e integrava o grupo liderado pelo saxofonista Paquito D’Rivera.
Incluir Conceição entre temas emblemáticos do jazz, como a própria Day Waves, de Chick Corea, ou All blues, de Miles Davis, e mesmo a fantástica Sue Ann, de Tom Jobim, era bastante ousado. Ela não é uma obra memorável, mas faz parte das lembranças dos tempos da Rádio Nacional. Era um pedido de sua mãe.
Hoje, Roditi é um dos trompetistas top no jazz internacional. Dono de uma linguagem própria, no domínio do trompete e do flughell horn. Ele promove a aproximação do jazz com a cadência da música brasileira. E surpreende o mundo transformando em samba rasgado um standard como In a sentimental mood, de Duke Ellington.


A discografia de Claudio Roditi soma uns vinte álbuns solo editados nos Estados Unidos. Os mais recentes, Brazilianse x 4 (2009), indicado ao Grammy; Simpático(2010) e Bons Amigos (2011), gravados para o selo Resonance, de Los Angeles.
Na frente européia, integra o trio formado com o pianista alemão Klaus Ignatzek e o baixista belga Jean-Louis Rassinfosse. Juntos há mais de vinte anos, eles têm seis CDs gravados para o selo alemão Nagel-Heyer.
No Brasil, a gravadora Biscoito Fino lançou, em 2010, seu único disco editado por aqui em todos esses anos, Impressions. Nele, Roditi revisita clássicos do jazz e mostra algumas de suas composições, como O monstro e a flor, em parceria com o guitarrista Ricardo Silveira.
Conceição me apresentou a esse trompetista, mais conhecido, aqui, entre os músicos do que entre o público. Os shows de Claudio Roditi no Brasil são raros e esporádicos. O próximo está programado para Festival Amazonas de Jazz, em Manaus, dia 26 deste mês. Um privilégio para os aficionados.

Flavio de Mattos, jornalista, escreverá aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio

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