terça-feira, 1 de julho de 2014

Forrobodó em Nova York, por Flavio de Mattos em Blog do Noblat

O Quarteto Novo gravou apenas um disco, em 1967, mas deixou uma forte marca na música brasileira. Pela primeira vez os ritmos nordestinos ganhavam um tratamento sofisticado, com riqueza harmônica e sonoridade refinada. Misturando baião e jazz, Theo de Barros, Heraldo do Monte, Airto Moreira e Hermeto Pascoal revolucionaram a cena da música instrumental.
Reunido a princípio para acompanhar o compositor Geraldo Vandré em suas apresentações, o grupo ganhou personalidade própria. Um time com essa escalação não poderia limitar-se a coadjuvante. Exemplo perfeito da musicalidade do conjunto é o tema O ovo, de Hermeto e Vandré.
Cada um dos integrantes alçou vôo próprio depois desse álbum. Hermeto Pascoal se destacou pela experimentação, criando sons a partir de qualquer objeto de que pudesse sacar algum ruído, minimamente organizado. Formou muitos discípulos, instigando a criatividade dos jovens músicos que com ele tocavam.

Forró de dois amigos – Forró in the dark

Um desses seus herdeiros musicais é Jovino Santos Neto, que hoje é professor de piano e composição no Cornish College of the Arts, em Seattle, Estados Unidos. Mas que lá, também, continua fazendo seu forró, misturado com o jazz, seguindo o caminho aberto pelo mestre. Carioca, filho de sergipanos, Jovino recuperou com Hermeto as raízes que trazia no sangue. Delas surgiu em 2008 seu trabalho Alma do Nordeste, lançado no Brasil pelo selo Tratore.
E é também nos Estados Unidos que ressurge a influência de Hermeto na retomada da mistura de ritmos nordestinos com o jazz. De farra, o percussionista Mauro Refosco juntou os amigos brasileiros para fazerem um forró na boate Nublu, do East Village, em Nova York. A banda fez sucesso e passou a se apresentar na casa a cada semana.
Assim nasceu o grupo Forró in the dark, com seu baixo poderoso e sua guitarra, unidos ao pífano, à zabumba e ao triangulo. Seu primeiro cd, Bonfires of São João, em 2006 tem a força de David Byrne, que participa do disco cantando Asa Branca, em inglês.
O som do Forró in the Dark faz sucesso no mundo inteiro. Além de percorrer os Estados Unidos, o grupo já se apresentou na Inglaterra, Itália, Portugal, Turquia e até na Eslováquia. O segundo disco da banda, Light a candle, de 2009, é destaque nas lojas de cds em Paris e toca no rádio lá, especialmente o tema, Lilou.
Aqui no Brasil estamos em clima de festas juninas, mas nos Estados Unidos o baile continua ainda no mês que vem. O Forró in the dark toca no Madison Square Park, de Nova York na tarde do dia 30 de julho. Uma grande festa, sem fogueira nem quentão, mas com muito baião e xote.

Flavio de Mattos, jornalista, escreverá aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio

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