terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Eric Doplhy e sua flauta de encantar passarinhos


“Os passarinhos costumavam vir cantar na minha janela, quando eu estava em casa, exercitando com o saxofone. Eu parava com as escalas e ficava tocando junto com eles”, contava assim Eric Dolphy sua relação com a música e a natureza. Inspirado no canto dos pássaros, seus solos costumavam instigar a audiência, ao reproduzir seus sons, com os diversos instrumentos de sopro que tocava.

Nascido em Los Angeles, em 1928, Eric Dolphy ganhou seu primeiro clarinete aos seis anos de idade. Com apenas um mês de estudos já estava tocando na pequena banda de seu colégio. Em sua formação, estudou o oboé, o saxofone, o clarinete e a flauta. Concluiu seus estudos clássicos no Los Angeles City College, enquanto tocava jazz nos clubes da cidade. Mas Dolphy começou a ficar conhecido em 1958, quando se juntou ao quinteto de Chico Hamilton.

Em 1959, Eric Dolphy mudou-se para Nova York e passou a integrar o grupo do baixista Charles Mingus. O músico se apresentou e gravou com alguns dos maiores nomes do jazz naquele momento, além de desenvolver sua carreira solo no selo Prestige. Dolphy integrou a banda de Ornette Coleman no álbum Free Jazz, de 1961, o que acabou identificando seu nome ao movimento.

Eric Dolphy era um músico de vanguarda, mas não pertencia à escola do free jazz. Ele estava mais próximo das experiências musicais de John Coltrane. Os dois conversavam muito e se influenciavam mutuamente. Os críticos da época creditavam à influência de Dolphy a nova sonoridade apresentada por Coltrane, em seus shows no clube Village Vanguard.

O álbum original John Coltrane Live at Village Vanguardtraz apenas umas poucas participações de Eric Dolphy, nesses concertos, como na faixa Spiritual, em que ele sola seu clarone, o clarinete baixo da orquestra sinfônica, que Dolphy levou para jazz.

Já o álbum, The Complete Copenhagen Concert 1961, traz uma versão a versão de Coltrane para My Favorite Things, em que se destaca o solo da flauta de Eric Dolphy. Impressionado com a história dos pássaros na janela, John Coltrane pediu a Dolphy que recuperasse esses diálogos em seu solo. 

Eric Dolphy morreu em 1964, no auge de sua carreira, aos 36 anos. Ele passou mal durante uma turnê em Berlim e foi levado para um hospital. Negro, músico de jazz, os médicos inferiram que Dolphy estaria tendo uma overdose de drogas. O músico não se drogava. Era diabético e não sabia. Havia tido uma overdose de mel e, provavelmente, lhe injetaram mais glicose, causando-lhe um coma fatal.

Eric Dolphy havia gravado naquele ano o álbum Out to Lunch, considerado sua obra prima. Na turnê pela Europa, junto com Charles Mingus, ele tinha revelado ao baixista que ficaria por lá, morando em Paris. Mingus compôs, em sua homenagem, o tema So Long, Eric, que tocam juntos, no vídeo a seguir. Eles não imaginavam que se despediam para sempre.


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