terça-feira, 20 de maio de 2014

As gravações (quase) perdidas de Sinatra & Jobim, por Flávio de Mattos - Blog do Noblat

Enviado por Flávio de Mattos - 
8.5.2014
 | 10h30m
MÚSICA

As gravações (quase) perdidas de Sinatra & Jobim, por Flávio de Mattos

Em uma tarde de 1966, Tom Jobim estava sentado no Veloso, o famoso bar que hoje se chama Garota de Ipanema, quando o garçom lhe chama do balcão e avisa: “Seu Tom, telefone para o senhor. É o Frank Sinatra”.
Tom Jobim hesitou em ir atender, pensou que era trote, de algum de seus amigos gaiatos. Contudo, quando chegou lá, para sua surpresa, do outro lado da linha, a voz inconfundível de Sinatra, com o convite: “Quer gravar um disco comigo?”
Assim nasceu o álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim.
O disco foi gravado em três sessões, com mais de dez horas cada uma, nos dias 30, 31 de janeiro e primeiro de fevereiro, de 1967. Os temas foram escolhidos por Sinatra, entre as canções de Jobim, que ele já conhecia. Os arranjos e a orquestra foram conduzidos pelo maestro alemão Claus Ogerman.
Sinatra e Tom tornam-se grandes amigos. Cantaram juntos na televisão americana, enquanto Garota de Ipanema, que abria o disco, se consagrava como um hit mundial.
Dois anos depois, em 1969, Frank Sinatra convida Tom Jobim para gravar um novo disco. Os arranjos ficaram a cargo de Eumir Deodato, o então jovem maestro brasileiro, com apenas 26 anos. O álbum, no entanto, nunca foi lançado. Sinatra não ficou nada satisfeito com seu resultado final.


Três das peças do repertório, ele dizia que não tinham “a cara de Frank Sinatra”. EramSabiáDesafinado; e Bonita. Sinatra desenvolveu especial implicância com Desafinado, por causa da letra em inglês, achava esquisito dois homens cantando juntos uma canção de amor.
O disco se chamaria SinatraJobim. Na capa, Frank Sinatra aparecia encostado em um ônibus da Greyhound, no meio da “floresta amazônica”. Surreal demais para seu gosto, a floresta fake foi a gota d’água e o projeto foi cancelado.
Algumas das gravações feitas para esse álbum foram parar em um disco obscuro chamado Sinatra and Company, editado em 1971. No lado A do vinil, a música de Tom Jobim, no lado B, arranjos de Don Costa para músicas de elevador, todas, merecidamente, esquecidas.
O disco foi distribuído sem nenhum lançamento. Uma pena porque as interpretações de Sinatra e Jobim para Água de beberWave Estrada Branca, são maravilhosas. Se tivesse sido bem divulgada em seu momento, a versão de Sinatra para Wave talvez se tivesse tornado uma referência definitiva para o belíssimo tema de Tom Jobim.
Somente em 2010, as três canções vetadas anteriormente por Frank Sinatra foram publicadas em cd. Naquele ano, o selo Concorde lançou Sinatra Jobim - The Complete Reprise Recordings.
Com a edição remasterizada das gravações, vemos que o veto de Sinatra foi resultado de um excesso de zelo. Basta ouvir sua interpretação para Bonita, simplesmente, linda. Agora, aquela capa, era, realmente, espantosa.


Flavio de Mattos, jornalista, escreverá aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio

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