sábado, 15 de abril de 2017

O Cool Jazz do branco Gerry Mulligan


Gerry Mulligan, 1976 (Foto: Franca R. Mulligan)


Gerry Mulligan, 1976 (Foto: Franca R. Mulligan)
Para o pequeno Gerald, o filho caçula dos brancos Mulligan, o melhor passeio era ir visitar a casa da babá negra Lilly Rose. Ela sentava ao piano e tocava umas músicas que o mantinham fascinado. Nos fins de semana, os amigos dela apareciam por lá e havia música todo o tempo. Era o lugar mais alegre de Marion, a cidadezinha do Ohio, onde viviam, no final da década de 1930.

Quando cresceu mais, Gerry, como ficou conhecido, descobriu que aquela música era o jazz. Os amigos de Lilly Rose eram profissionais, como Fats Waller, que se hospedavam em sua casa, porque os hotéis de lá não aceitavam reservas dos músicos negros que iam tocar na cidade. A comunidade negra do lugar a garantia estadia deles em casas de famílias locais.

Foi com Lilly Rose que Gerry Mulligan aprendeu as primeiras lições de piano, aos sete anos de idade. Depois foi estudar no conservatório e seguiu com o piano até os quatorze anos. Foi quando a família se mudou para a Filadélfia, que ele decidiu se dedicar ao clarinete. Seu professor o levou a interessar-se por arranjos no jazz. Com as novas lições, Gerry organizou uma big banda em seu colégio e passou a fazer os arranjos para o grupo.

Ao mesmo tempo, o jovem Mulligan foi tocar saxofone em um conjunto que animava os bailes da cidade nos fins de semana. Com 16 anos, ele foi oferecer seus serviços de arranjador para a pequena orquestra da rádio local. O maestro ficou impressionado com a ousadia do rapaz e lhe encomendou algumas orquestrações.

Pouco depois, conseguiu seu primeiro emprego como arranjador na orquestra de Tommy Tucker. Ele começou recebendo US$ 100,00 por semana, para escrever dois ou três arranjos novo para cada apresentação nos fins de semana. Com esse salário, Gerry Mulligan largou a escola e foi viver de música.

Gerry Mulligan mudou-se para Nova York em 1946, com 19 anos. Lá foi dividir apartamento com Gil Evans, seu colega de classe nas aulas de orquestração. Ali, passou a conviver com John Lewis, Charles Mingus, Lee Konitz, Thelonious Monk, Miles Davis e toda a nata do jazz em NYC.

Nessa primeira época em Nova York, Gerry Mulligan escrevia arranjos para a banda de Gene Krupa e logo para a orquestra de Claude Thornhill. Esses arranjos chamaram a atenção do trompetista Miles Davis, interessado em experimentar uma nova formação para seu grupo. Ele convidou Mulligan para integrar o noneto que estava montando, com uma sessão de metais ampliada por um trombone, uma tuba, uma trompa e o sax barítono, o novo instrumento de Mulligan.

Desse trabalho nasceu o álbum Birth of the Cool, considerado um dos mais importantes da história do jazz, incluído no Hall da Fama do Grammy, em 1982. Gerry Mulligan escreveu os arranjos para as faixas Deception, Godchild e Darn That Dream, além de participar com três de suas composições Rocker, Venus de Milo e Jeru. O título desta última, Jeru, era o apelido que Miles Davis lhe havia dado, e era como todos lhe chamavam na banda.

Depois das gravações que formaram o Birth of the Cool, Gerry Mulligam foi morar em Los Angeles, na Califórnia, como arranjador da orquestra de Stan Kenton. Nas noites livres, Mulligan costumava tocar no pequeno clube The Haig, que às segundas feiras promovia animadas jam sessions. Em um desses encontros musicais ele conheceu um jovem trompetista, cujo estilo melódico se enquadrava perfeitamente com a levada de seu sax barítono: Chet Baker.

Eles resolveram montar um grupo para apresentar-se ali mesmo no Haig. Mas os donos do clube haviam vendido o piano da casa porque tinham como atração fixa o trio de Red Norvo, comandado por seu vibrafone. Gerry Mulligan decidiu então criar uma sessão rítmica apenas com o baixo e a bateria para acompanhar seu sax e o trompete de Baker. Esse tornou-se seu fabuloso quarteto sem piano, um experimento que marcou profundamente a história do jazz.

O Quarteto de Gerry Mulligan com Chet Baker manteve o Haig lotado em todas as suas apresentações, em 1952. No mesmo ano eles lançavam o primeiro disco do grupo, que tinha Mulligan no saxofone barítono; Baker, no trompete; Bob Whitlock, no baixo; e Chico Hamilton, na bateria. Nights at the Turntable foi um dos temas gravados pelo pianoless quartet.

Gerry Mulligan deixou sua marca como o saxofone barítono mais importante da história do jazz. Ele tornou-se referência nesse instrumento para todas as gerações seguintes. Até sua morte, em 1996, ele atuou tanto como líder de pequenas formações, como comandando grandes orquestras.

Em 1991, Gerry Mulligan chegou a procurar Miles Davis, para que reeditassem a proposta do álbum Birth of the Cool. Davis se entusiasmou com a ideia, porém o destino não lhe permitiu participar do projeto, pois faleceu naquele mesmo ano.

Mulligan lançou o álbum Re-Birth of the Cool, em 1992, com um novo noneto, com Wallace Roney no trompete. Do grupo original participaram John Lewis, no piano; e Bill Barber, na tuba. Eles retomaram os antigos temas do disco emblemático, como a composição de Miles Davis, Deception, que teve o arranjo de Gerry Mulligan.

No vídeo a seguir temos uma apresentação de Mulligan, em 1981, com um quarteto sem piano, formado só por feras do jazz: Gerry Mulligan, no sax barítono; Bob Brookmeyer, no trombone; Ray Brown, no baixo; e  Art Brakey, na bateria. Eles tocam uma das composições marcantes da formação de Mulligan, Bernie’s Tune.


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