quinta-feira, 22 de maio de 2014

Os Ipanemas - A volta dos que não foram - Artigo publicado no Blog do Noblat

Os Ipanemas - A volta dos que não foram, por Flávio de Mattos

The Return of The Ipanemas, é o título do cd lançado no ano 2000 pela gravadora inglesa Far Out. O disco traz uma fantástica mistura de samba de raiz afro com jazz. A pergunta é: Quem são esses Ipanemas que estão de volta?
Na década de 60, o percussionista Rubens Bassini; o baixista Luiz Marinho; o violonista Daudeth Azevedo, o Neco; e o baterista Wilson da Neves integravam a orquestra da CBS. O trombonista, arranjador e maestro, Astor Silva era o diretor musical da gravadora. Eles faziam o acompanhamento dos cantores.
Entre uma gravação e outra, sempre tinham um tempo livre no estúdio. E faziam música, enquanto isso. A idéia foi de Rubens Bassini, usar esses intervalos para fazer um disco deles. Astor Silva aprovou e o grupo foi batizado como Os Ipanemas.
Eles puderam usar os melhores recursos da gravadora, a interferência de executivos. Fizeram o disco que eles queriam, com a cara deles.
O álbum foi lançado em 1964 porém, com uma tiragem mínima e nenhuma divulgação. Ficou totalmente esquecido, até o dono da gravadora Far Out, o inglês Joe Davis, dar com o vinil em um sebo do Rio e enlouquecer com a descoberta.


Um quinteto sem piano, assentado no violão, com uma forte presença do trombone e da percussão. A sonoridade dos terreiros, misturada ao samba dos salões de gafieira, com pitadas de jazz. Ouvido ainda hoje, ninguém diz que foi gravado há 50 anos, como se comprova pelo tema Congo (ouça AQUI).
Joe Davis convidou Ivan Conti, percussionista do grupo Azimuth, para produzir um novo disco com o som de Os Ipanemas. Bassini, Marinho e Astor já não estavam vivos. O violonista Neco e o baterista Wilson das Neves eram a memória do grupo.
No ano 2000 saía The Return of The Ipanemas. O trabalho retoma a identidade e a consistência da mistura afro samba jazz do primeiro disco, como se constata no temaBerimbaco (ouça AQUI).
Depois disso, Os Ipanemas já lançaram outros quatro álbuns pela gravadora Far Out:Afro Bossa, em 2003; Samba is our gift, em 2006, Call of the Gods, em 2008 e Que Beleza, em 2010. Este último, já sem o violonista Neco, que morreu em 2009. Agora é Wilson das Neves quem mantém a tradição do grupo.
Em 2008, Os Ipanemas retornados fizeram uma turnê por 10 cidades no Reino Unido e Holanda. No Brasil, se apresentaram somente uma vez, na Fundição Progresso, no final de 2013. O próximo show está programado para o dia 7 de junho, no Rio. Um novo disco será lançado, ainda neste ano.
Torcemos todos para que este seja mais um retorno de Os Ipanemas, desta vez, por por muito tempo e mais constante.

Flavio de Mattos, jornalista, escreverá aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio

terça-feira, 20 de maio de 2014

As gravações (quase) perdidas de Sinatra & Jobim, por Flávio de Mattos - Blog do Noblat

Enviado por Flávio de Mattos - 
8.5.2014
 | 10h30m
MÚSICA

As gravações (quase) perdidas de Sinatra & Jobim, por Flávio de Mattos

Em uma tarde de 1966, Tom Jobim estava sentado no Veloso, o famoso bar que hoje se chama Garota de Ipanema, quando o garçom lhe chama do balcão e avisa: “Seu Tom, telefone para o senhor. É o Frank Sinatra”.
Tom Jobim hesitou em ir atender, pensou que era trote, de algum de seus amigos gaiatos. Contudo, quando chegou lá, para sua surpresa, do outro lado da linha, a voz inconfundível de Sinatra, com o convite: “Quer gravar um disco comigo?”
Assim nasceu o álbum Francis Albert Sinatra & Antonio Carlos Jobim.
O disco foi gravado em três sessões, com mais de dez horas cada uma, nos dias 30, 31 de janeiro e primeiro de fevereiro, de 1967. Os temas foram escolhidos por Sinatra, entre as canções de Jobim, que ele já conhecia. Os arranjos e a orquestra foram conduzidos pelo maestro alemão Claus Ogerman.
Sinatra e Tom tornam-se grandes amigos. Cantaram juntos na televisão americana, enquanto Garota de Ipanema, que abria o disco, se consagrava como um hit mundial.
Dois anos depois, em 1969, Frank Sinatra convida Tom Jobim para gravar um novo disco. Os arranjos ficaram a cargo de Eumir Deodato, o então jovem maestro brasileiro, com apenas 26 anos. O álbum, no entanto, nunca foi lançado. Sinatra não ficou nada satisfeito com seu resultado final.


Três das peças do repertório, ele dizia que não tinham “a cara de Frank Sinatra”. EramSabiáDesafinado; e Bonita. Sinatra desenvolveu especial implicância com Desafinado, por causa da letra em inglês, achava esquisito dois homens cantando juntos uma canção de amor.
O disco se chamaria SinatraJobim. Na capa, Frank Sinatra aparecia encostado em um ônibus da Greyhound, no meio da “floresta amazônica”. Surreal demais para seu gosto, a floresta fake foi a gota d’água e o projeto foi cancelado.
Algumas das gravações feitas para esse álbum foram parar em um disco obscuro chamado Sinatra and Company, editado em 1971. No lado A do vinil, a música de Tom Jobim, no lado B, arranjos de Don Costa para músicas de elevador, todas, merecidamente, esquecidas.
O disco foi distribuído sem nenhum lançamento. Uma pena porque as interpretações de Sinatra e Jobim para Água de beberWave Estrada Branca, são maravilhosas. Se tivesse sido bem divulgada em seu momento, a versão de Sinatra para Wave talvez se tivesse tornado uma referência definitiva para o belíssimo tema de Tom Jobim.
Somente em 2010, as três canções vetadas anteriormente por Frank Sinatra foram publicadas em cd. Naquele ano, o selo Concorde lançou Sinatra Jobim - The Complete Reprise Recordings.
Com a edição remasterizada das gravações, vemos que o veto de Sinatra foi resultado de um excesso de zelo. Basta ouvir sua interpretação para Bonita, simplesmente, linda. Agora, aquela capa, era, realmente, espantosa.


Flavio de Mattos, jornalista, escreverá aqui sobre jazz a cada 15 dias. Dirigiu a Rádio Senado. Produz o programa Improviso - O Jazz do Brasil, que pode ser acessado no endereço: senado.leg.br/radio