segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Ahmad Jamal, lenda viva do jazz


Aos 89 anos, o pianista Ahmad Jamal é a própria história viva do jazz. Ele sempre lembra do concerto de 1952, no Carnegie Hall, que comemorava os 25 anos da orquestra de Duke Elling-
ton. Jamal estava no palco junto com Ellington, Charlie Parker, Dizzy Gillespie, Stan Getz e Billie Holiday. Único remanescente desse grupo, ele se diz um afortunado por seguir vivo e traba-lhando. Ahamad Jamal acaba de lançar o álbum Ballades (Jazz Village), o primeiro piano solo de sua carreira.
 
Nascido Frederick Russell Jones, de uma família batista de Pittsburgh, na Pensilvania, ele adotou o nome Ahmad Jamal nos anos 50, quando se converteu ao Islã. Pittsburgh é uma parte importante de sua identidade musical. Ali estão suas raízes e principais influências, tendo convivido com músicos como Earl Hines, Billy Strayhorn, Mary Lou Williams, e Erroll Garner. Aos 14 anos estava em jam sessions com o pianista Art Tatum ou com o saxofonista Ben Webster.

Ahmad Jamal conheceu o sucesso em 1958 quando tocava com seu trio no Chicago's Pershing Hotel. Por aquela época ele definiu seu fraseado minimalista, em contraste com o batucar frenético das teclas, que marcava o jazz da época. Precursor do gênero que ficou conhecido como cool jazz, Jamal foi uma das influências confessas de Miles Davis na definição do estilo. Miles foi um dos muitos músicos que passaram pelo lounge do hotel para escutar o trio de Ahmad Jamal.

Ahmad Jamal at the Pershing: But Not for Me, o álbum gravado ao vivo naquele ano esteve, por mais de dois anos na lista dos dez mais vendidos na época. Feito raro, para um disco de jazz, em qualquer período. Composto basicamente por standards, como But not for me e No greater love, o disco ficou mesmo conhecido pela versão do pianista para o tema latino Ponciana, que acompanhou Ahmad Jamal durante toda sua carreira.

As músicas que compõem o novo álbum Ballades, foram gravadas nos intervalos das sessões de seu disco anterior Marseille(2017). Ahmad Jamal diz que o álbum é uma carta de amor, de inspiração francesa a seu passado. Ele conta que, sempre adorou interpretar baladas. “Elas são difíceis de tocar, tomam, verdadeiramente, anos de minha vida, na tentativa de conseguir uma leitura apropriada para cada uma delas”, explica Jamal.

No repertório do disco Ballades estão três composições suas, entre elas a novíssima Because I Love Youstandards do jazz, como What’s New, consagrado por Billie Holiday; e uma nova leitura de seu clássico Ponciana,  piano solo. A sofisticação e a qualidade de Ahmad Jamal, preservada e ampliada ainda mais, ao longo de seus 89 anos.

No vídeo a seguir temos uma apresentação de Ahmad Jamal no Palais des Congrès de Paris, em 2017, interpretando também uma balada, Autumn Leaves.


segunda-feira, 28 de outubro de 2019

Arthur Maia, o saudoso gigante do baixo



Aos quatro anos o garoto Arthur já batucava nas panelas da casa, acompanhando as músicas que ouvia no rádio. Aos cinco, ganhou sua primeira bateria e começou a ter aulas do instrumento. Com oito anos já tinha uma banda e tocava nas festas e eventos, no Rio de Janeiro. Mas aos 14 anos, influenciado pelo tio Luizão Maia, o jovem Arthur Maia trocou a bateria pelo baixo e se tornou um dos maiores mestres desse instrumento no Brasil.

O baixista Luiz Maia era já uma lenda na cena musical brasileira. Foi ele a primeira influência do jovem Arthur Maia. E foi, também, quem lhe indicou para o primeiro emprego, na banda de Ivan Lins, em 1986.  Com pouco mais de 15 anos, logo Arthurzinho já estava tocando com Luiz Melodia, Marcio Montarroyos, Jorge Benjor, músicos que eram seus ídolos.

Outra influência fundamental para o Arthur Maia foi o baixista Jaco Pastorius, que ele o viu tocando com o Weather Report no Rio, em 1980. De Pastorius, incorporou o baixo elétrico fretless, que não tem trastes no braço. A partir daí desenvolveu sua própria linguagem musical, levando para o baixo elétrico as técnicas adquiridas com o estudo do baixo acústico.  

Arthur Maia, ainda muito jovem, se tornou um baixista dos mais requisitados pelos grandes artistas brasileiros como Djavan, Ney Matogrosso, Gal Costa, Caetano Veloso, Marisa Monte, Roberto Carlos, Dominguinhos entre tantos outros. Tocar com diferentes artistas de todos os gêneros musicais, lhe rendeu uma formação ampla e influências ecléticas. 

Em 1985, Maia passou a integrar o mais importante grupo de jazz brasileiro, o Cama de Gato, junto com Paschoal Meirelles, Mauro Senise e Rique Pantoja. Na mesma época, ele tocava rock, na banda de Lulu Santos; samba, com Martinho da Vila; e MPB no grupo de Ivan Lins.

Em suas composições, Arthur Maia incorpora todas essas influências, fazendo uma fusão do jazz com o samba, o funk e até o reggae. Integrante durante 15 anos da banda de Gilberto Gil, Maia relatava como havia sido marcante ter gravado na Jamaica, o álbum Kaya N'Gan Daya (2002), o tributo de Gil a Bob Marley. 

Em sua carreira solo, Arthur Maia estreou com o álbum Maia, em 1991, que lhe rendeu o Prêmio Sharp Instrumental. Seu último trabalho em disco foi o álbum O Tempo e a Música, editado em 2011, que soa, hoje, como uma espécie de testamento. Nele, se destacam as composições Frevo do Compadre e To Nico. E, também, o arranjo de Maia para o choro Brejeiro, de Ernesto Nazareth, em que o baixo sola, conduzindo a melodia.

Arthur Maia faleceu prematuramente em dezembro de 2018, aos 51 anos. Em julho deste ano o selo Biscoito Fino lançou o DVD Arthur Maia Ao Vivo, gravado em 2015, em Niterói. É deste trabalho o vídeo a seguir, com o tema Arthur e o Gigante, composta para Arthur Maia por Willian Magalhães, da Banda Black Rio. 


Veja, também, Arthur Maia e Dominguinhos nesta sensacional versão de Lamento Sertanejo

O saxofonista Joshua Redman revive Velhos e Novos Sonhos




O quarteto Old and New Dreams foi um grupo de jazz singular, formado no final dos anos 70 por ex-membros da banda do saxofonista Ornette Coleman. Eles recuperaram o antigo formato do revolucionário quarteto de Coleman, com Charlie Haden, no baixo; Ed Blackwell, na bateria; Don Cherry, no trompete; e o saxofonista Dewey Redman, no lugar de Ornette Coleman. O grupo havia ficado órfão, quando Coleman resolveu montar uma nova banda, toda elétrica.

O formato do quarteto sem piano - em que apenas o baixo e a bateria sustentam a sessão rítmica, para os solos do trompete e do saxofone - já é, por si só, inusitado. O mais famoso grupo desse tipo foi o que reuniu Chet Baker e Gerry Mulligan, nos anos 50. Ornette Coleman repetiu essa formação no início dos anos 60, com seu sax alto fazendo contraponto, e se complementando, com o poket trumpet de Don Cherry. Foi o auge do free jazz, o jazz de vanguarda, que levou o improviso a seus extremos.

Com Dewey Redman no saxofone, o Old and New Dreams, ainda que seguindo o estilo de improvisação do free jazz, voltou-se para uma abordagem mais leve que a do grupo de Coleman. O quarteto gravou seu primeiro álbum em 1976, para o selo italiano Black Saint. No repertório, temas do antigo quarteto de Ornette Coleman e novas composições do grupo, como a que dá nome ao disco, escrita por Redman, Old and New Dreams.

O quarteto teve duração relativamente curta, com reuniões esporádicas, uma vez que seus quatro integrantes eram líderes em suas próprias bandas. Eles gravaram apenas quatro discos, no período de 1976 e 1987, todos na Europa e não nos Estados Unidos. 

O quarteto Old And New Dreams com Charlie Haden, no baixo; Don Cherry, no trompete; Ed Blackwell, na bateria;  e Dewey Redman, no saxofone

Em 1979 o selo de jazz alemão ECM lançou outro álbum com o mesmo nome do grupo, Old and New Dreams e em 1980 editou Playing, gravado ao vivo. O último álbum do quarteto foi A Tribute to Blackwell, lançado pelo selo italiano Black Saint, em 1987.

Em 2018, o filho de Dewey Redman, o também saxofonista Joshua Redman, inspirado no lendário grupo de seu pai o formou o quarteto Still Dreaming. Com ele estão o trompetista Ron Miles, seguidor de Don Cherry, até no pocket trumpet; o baixista Scott Colley, que foi aluno de Charlie Haden; e o baterista Brian Blade, influenciado diretamente pela batida de Ed Blackwell.

Joshua Redman não faz um cover da banda de seu pai, ele recria a atmosfera do grupo, na perfeita integração de seus duetos com Ron Miles, como fazia Dewey com Don Cherry. A maioria das músicas que integram o álbum Still Dreaming (Nonesuch -2018) são composições originais de Joshua, como Blues For Charlie, sua homenagem ao baixista Charlie Haden. Do Old and New Dreams, o novo quarteto gravou Playing, composição de Charlie Haden e Comme Il Faut, de Ornette Coleman.

No vídeo a seguir temos a Joshua Redman e o quarteto Still Dreaming com o tema Unanimity, durante a apresentação no Festival Jazz in Marciac, na França, em 2017.


segunda-feira, 15 de julho de 2019

Jaco Pastorius, “o melhor baixista do mundo”



“Olá, eu sou John Francis Pastorius III, o maior baixista do mundo”, se  apresentou Jaco Pastorius ao tecladista do Weather Report, Joe Zawinul, depois de assistir a banda, em Miami, em 1974. Zawinul riu da abordagem e pediu que lhe deixasse alguma gravação de sua performance. Um ano depois, Zawinul chamou o músico para substituir o antigo baixista, que deixava a banda. O baixo de Jaco Pastorius passou a ser  a marca definitiva do som do Weather Report.

Nascido na Pensilvânia em Fort Lauderdale, na Florida, Jaco Pastorius era já uma lenda local em sua terra. Ele havia começado tocando em bandas de R&B e de rock and roll, quando adolescente. Mas logo passou ao jazz, em parceria com o guitarrista Pat Matheny, outro jovem músico, em início de carreira. Eles gravaram juntos o álbum Jaco(1974) que viria a ser a primeira gravação de ambos. O disco já marcava o estilo inovador de Pastorius.

Jaco Pastorius foi contratado, em 1975, pela Epic Records, que buscava novos talentos do jazz. O primeiro disco que ele gravou para o selo é considerado hoje um dos melhores álbuns de jazz, tendo o baixo na linha de frente. No álbum Jaco Pastorius (1976), o músico estabelecia uma nova linguagem para o baixo elétrico, que soava quase como acústico.

O disco solo de Pastorius foi lançado no mesmo ano que o álbum  Black Market(1976), que marca o ínicio de sua colaboração com o Weather Report. Ele participa do repertório com a peça Barbary Coast. No álbum seguinte da banda Heavy Weather(1977), Jaco Pastorius já aparece como co-produtor e co-líder, junto com Joe Zawinul e Wayne Shorter. Sua composição Teen Town se torna um dos clássicos do Weather Report.

Jaco Pastorius ficou no grupo até 1981 e deixou o Weather Report para montar seu próprio grupo, o Word of Mouth. A nova banda tinha formatos variáveis, que iam desde o octeto até uma big band de 21 instrumentos. A Word of Mouth excursionou pelo mundo até 1984, quando o comportamento instável de Pastorius começou a passar-lhe fatura. 

Diagnosticado com transtorno bipolar, Jaco Pastorius tinha crises maníaco depressivas, agravadas pelo abuso de álcool e drogas. Morreu, em 1987, aos 35 anos, depois de levar uma surra do leão de chácara de uma boate. Antes, naquele dia, ele havia sido expulso do palco de um show de Santana, em que havia entrado de penetra. Logo, foi para essa boate, onde foi surrado, depois de discutir com o porteiro. O legado de Pastorius é destacado no documentário Jaco (2015), produzido por Roberto Trujillo, baixista do grupo Metallica.

No vídeo a seguir temos uma apresentação de Jaco Pastorius na Bélgica, em 1985, com Jon Davis ao piano; Paco Sery, na bateria; e Azar Lawrence, no saxofone. Eles tocam o tema Dolphin Dance, clássico de Herbie Hancock.

terça-feira, 9 de julho de 2019

O Adeus do Improviso ao Gênio João Gilberto


O Improviso, que foi ao ar no sábado, 06/07/2019, na Radio Senado FM por coincidência, homenageava João Gilberto ao destacar seu álbum Amoroso, gravado nos Estados Unidos em 1977. O programa havia sido preparado, com antecedência, para ser emitido naquele final de semana. Ele foi transmitido, inicialmente, na noite da sexta feira anterior. Amoroso é uma das obras primas da discografia mundial, um dos melhores discos gravados por qualquer artista em todos os tempos. Ouça aqui no Improviso - O Jazz do Brasil  

segunda-feira, 8 de julho de 2019

Amoroso, o disco de João Gilberto para uma ilha deserta



O disco Amoroso, que João Gilberto gravou nos Estados Unidos em 1977, é, exageros a parte, um dos melhores álbuns já lançados, em todos os tempos, por qualquer artista. Em Amoroso encontramos João Gilberto no auge de sua maturidade musical, apoiado por uma produção impecável e acompanhado, à perfeição, pelos arranjos de Claus Ogerman. O resultado é um produto extremamente sofisticado, sob uma desconcertante simplicidade aparente.

João Gilberto entrou nos estúdios Rosebud, em Nova York, para três sessões de gravações, em novembro de 1976. O experiente produtor Tommy LiPuma garantiu ao músico as mais perfeitas condições para seu trabalho. LiPuma tinha acabado de ganhar seu primeiro Grammy como produtor, com a faixa This Masquerade, do álbum Breezin' (1976), que ele produziu para o guitarrista George Benson. 

Foi o produtor LiPuma quem sugeriu o maestro alemão Claus Ogerman para escrever os arranjos e conduzir a orquestra nas gravações de Amoroso. No ano anterior, eles já haviam trabalhado em outro álbum emblemático na discografia da música brasileira, o Urubu (1976), de Antonio Carlos Jobim. Como no disco de Jobim, a orquestração de Claus Ogerman nunca é uma coadjuvante secundária. Ela aparece em primeiro plano, em Amoroso, com a bela cama de cordas, realçando o violão personalíssimo de João Gilberto.

O disco surpreende, logo de início, com as três canções “estrangeiras” que João Gilberto trouxe para seu repertório e para sua praia. A primeira delas é ‘S Wonderful, composta pelos irmãos Ira e George Gershwin, em 1927, para o musical Funny Face. A música ganhou um balanço de bossa nova e se tornou, na verdade, um samba cantado em inglês. O arranjo de Claus Ogerman também virou uma referência para as gravações posteriores desse tema.

O mesmo se passou com Estate, uma desconhecida canção do italiano Bruno Martino, que ganhou status de clássico, a partir de sua recriação por João Gilberto. Isso porque, na verdade, João Gilberto nunca foi um simples intérprete, na concepção tradicional do termo. Ele se apropria do tema, que recria, transforma e  devolve com sua própria assinatura. É o que acontece com o bolero Besame Mucho, outra das faixas marcantes do álbum Amoroso.

Na edição em vinil de Amoroso, o lado B é todo de canções do maestro Antonio Carlos Jobim. Lá estão versões definitivas de WaveCaminhos CruzadosTriste; e Zíngaro, que virou Retrato em Branco e Preto, depois de ganhar a belíssima letra de Chico Buarque de Holanda. Mais uma interpretação delicadíssima, em que João Gilberto quase recita a letra acompanhado do violão. É aquele disco para se levar para a ilha deserta, se tiver de ser apenas um.

No vídeo a seguir temos João Gilberto cantando Wave, em Amsterdam, em 1980, com a Dutch Metropole Orchestra executando o arranjo de Claus Ogerman

sábado, 6 de julho de 2019

João Gilberto, um gênio da raça brasileira se vai


Neste sábado, 06 de Julho, nos despedimos de João Gilberto. Mais que o músico, o cantor, o artista, nos deixa uma dessas pessoas que fazem a diferença na cultura, em nosso Mundo. Seu legado não é só a transformação promovida na música popular brasileira, com a criação da bossa nova. Ele inventou uma maneira nova de usar a voz e o violão, que revolucionou a maneira da música ser feita e ouvida. 

R.I.P. João Gilberto



Íntegra do show de 2008, em comemoração ao 50 anos da Bossa Nova, em São Paulo

quinta-feira, 4 de julho de 2019

Moacir Santos, o mestre do afrojazz brasileiro



O grande maestro Moacir Santos é uma personalidade da cultura brasileira que merece sempre todas as nossas reverências.

A trajetória desse músico negro, nascido em Pernambuco, que terminou seus dias como um dos grandes compositores do cinema em Hollywood, é um exemplo de perseverança e determinação. Seu talento venceu as adversidades e o colocou como o mestre dos grandes mestres.

Nascido em 1926, na pequena Flores do Pajeú, Moacir Santos ficou órfão aos dois anos. Foi adotado por uma família branca, que lhe deu acesso a educação escolar e musical. De outra parte, porém, o menino negro sofria maus-tratos por parte de seus pais adotivos. Quando completou quatorze anos, ele não agüentou mais e fugiu de casa. Foi parar em Rio Branco, no Acre. 

Sua formação musical lhe proporcionou ali uma nova família. O professor Paixão, maestro da escola local, adotou o jovem, que além do saxofone, da clarineta e do trompete, ainda tocava o banjo, o violão e o cavaquinho. Quando Paixão mudou-se para Recife, levou Moacir Santos, junto com sua família. 

Jovem rebelde, Moacir acabou desentendendo-se com o padrasto e, mais uma vez, caiu na estrada. Entrou para a trupe de um circo e viajou todo o Nordeste, indo parar na Paraíba. Em João Pessoa foi contratado para comandar a Orquestra da Rádio Tabajara, substituindo Severino Araújo, que se mudava para o Rio. Tudo isso ele viveu, antes de completar dezoito anos de idade. 

Em 1948, com 22 anos, ele deixou o Nordeste para tentar a vida no Rio de Janeiro. Com o talento e a sorte, rapidamente ingressou como saxofonista na Orquestra da Rádio Nacional. Em pouco tempo, foi promovido a arranjador e regente, trabalhando ao lado de Radmés Gnatalli, Leo Perachi e Lírio Panichalli.

Muito aplicado, Moacir Santos foi estudar música clássica e teve como mestres Cláudio Santoro, Guerra Peixe e o maestro alemão Koellreuter. Depois de formado, Santos tornou-se o professor e formou uma nova geração de mestres, como Paulo Moura, Baden Powell, Sergio Mendes e João Donato, para citar alguns.

No início dos anos 60, Moacir Santos compôs algumas das trilhas sonoras do nascente Cinema Novo, como as de Seara Vermelha, Ganga Zumba Os FuzisEm 1967 foi convidado para trabalhar em Hollywood e transferiu-se para Los Angeles, onde viveu, compondo para o cinema, até o fim de seus dias, em 2006, aos 80 anos. 

Moacir Santos não tinha dado nome a suas composições, quando foi gravar seu primeiro disco. Ele as chamava de “coisas”. Inspirado na maneira erudita de catalogação musical, tipo sinfonia 125, Opus 3, número 10, resolveu que elas se chamariam a Coisa n.o 1; ou a Coisa n.o 4Coisa n.o 10 ou Coisa n.o 5 que ficou mais conhecida como Nanã. E assim surgiu seu disco Coisas, de 1965.

No vídeo a seguir, uma rara apresentação do maestro Moacir Santos, regendo a Banda Savana, na TV Educativa de São Paulo, com sua composição Maracatucutê.


Moacir Santos e Banda Savana - Maracatucutê

segunda-feira, 24 de junho de 2019

Kenny Barron e Trio da Paz cantando o jazz do Brasil

Kenny Barron

Trio da Paz

No site do Improviso, na página da Rádio Senado, você pode ouvir e baixar os programas que já foram levados ao ar. Como este que destaca o álbum Canta Brasil, de 2002. 

O disco reúne o pianista americano Kenny Barron com os brasileiros do Trio da Paz. As origens africanas presentes tanto no samba como no jazz são ressaltadas nesse trabalho, editado nos Estados Unidos, que o Improviso apresenta sempre com exclusividade no Brasil. 

O Trio da Paz é formado por grandes músicos brasileiros, que moram nos Estados Unidos e são presenças de destaque na cena jazz internacional. Romero Lubambo toca o violão; Nilson Matta, o baixo; e Duduka da Fonseca, a bateria.

Acesse a íntegra do programa no link abaixo:


O samba encontra o jazz no baixo de Nilson Matta


O instrumentista Nilson Matta, 70 anos, costuma dizer que seu baixo o levou para viajar o mundo. Morando nos Estados Unidos desde os anos 80, Matta é um dos músicos brasileiros mais atuantes na cena jazz internacional. Integrante do Trio da Paz, do Brazilian Trio e líder do grupo Brazilian Voyage, Matta é, ainda, um professor dedicado. Ele dirige o projeto Samba Meets Jazz, comworkshopsvoltados para o ensino dos fundamentos da linguagem do samba em clave de jazz.

Nilson Matta começou a tocar o baixo aos 10 anos de idade. Tornou-se profissional muito cedo, tocando com o irmão baterista em bailes e clubes de São Paulo. Em pouco tempo de carreira já estava tocando na banda de Roberto Carlos. Nos anos 70 fez parte dos grupos que acompanharam João Gilberto, Chico Buarque, João Bosco, Johnny Alf, entre tantos outros grandes artistas brasileiros.

Já morando no Rio de Janeiro, Nilson Matta ingressou no Instituto de Música da UFRJ, onde foi aluno do maestro Sandrino Santoro, o grande mestre do baixo acústico no Brasil. No Rio, no início dos anos 80, Matta participou da primeira formação do mítico quarteto Cama de Gato, uma das referências do jazz brasileiro. Mas logo ele deixou o grupo, para fixar-se em Nova York, nos Estados Unidos, para onde se mudou em 1985.

No lugar certo, na hora certa, Nilson Matta foi apresentado ao saxofonista Gato Barbieri, que estava montando a banda para sua nova turnê. Matta e seu baixo andaram o mundo inteiro tocando com Barbieri durante três anos. A partir dali, os convites não pararam e Nilson Matta pôde estabelecer parcerias importantes com grandes nomes do jazz, como Joe Henderson, Don Pullen, Paquito D'Rivera, Slide Hampton, Herbie Mann, Kenny Barron, entre outros. 

Com os amigos brasileiros, o violonista Romero Lubambo e o baterista Duduka da Fonseca, Nilson Matta criou o Trio da Paz, no fim dos anos 80. O grupo está junto e atuante até hoje. Para celebrar seus 30 anos de existência, eles gravaram o álbum “30”, que foi nominado para o prêmio Grammy em 2017. A composição de Matta, Sampa 67 abre o disco.

Entre seus trabalhos como líder destaca-se o álbum Black Orpheus(2013) em que Nilson Matta revisa o repertório de Orfeu da Conceição, a mítica peça teatral de Vinícius de Moraes e Tom Jobim. E também músicas do filme Orfeu Negro, de Marcel Camus,  com temas como Samba de Orfeu, de Luis Bonfá.

Nilson Matta promove a próxima edição de seu workshop Samba Meets Jazz em Boston, entre os dias 20 e 26 de julho. O programa prevê oficinas de improvisação e harmonia do jazz, ritmos e estilos da música brasileira, arranjos e percussão no samba.

No vídeo a seguir vamos assistir Nilson Matta com Romero Lubambo e Duduka da Fonseca, o Trio da Paz, no tema Baden, composição de Matta em homenagem a Baden Powell.


O jazz lírico da cantora Quiana Lynell


Aos 37 anos, a cantora Quiana Lynell está lançando seu primeiro disco. Baseada em New Orleans, Lynell traz um trabalho maduro, em que as raízes do blues e dos jazz veem embaladas por sua perfeita técnica. Antes de dedicar-se ao jazz, Quiana formou-se em canto lírico na Universidade Estadual da Louisiana. Ela já foi a principal soprano da Orquestra Sinfônica de Baton Rouge, sua cidade natal, e é professora de canto da Universidade Loyola, em New Orleans.

“Eu não gostava do mundo da música clássica, com sua exagerada competição e a rigidez de suas regras. Eu percebi que eu era alguém que queria quebrar regras, improvisar, inventar meus próprios caminhos, por isso, me afastei”, explica assim Quiana Lynell a sua relação conflituosa com o canto lírico.

Deixar a iniciante carreira no mundo clássico, na época, cobrou um preço alto à jovem cantora, afastando-a da música. Ao mesmo tempo, sua vida foi tomando outro rumo, com um casamento, o nascimento de filhos e a necessidade de se manter. Assim Quiana Lynell foi parar como atendente no call centerde uma operadora de telefonia. Nos intervalos do trabalho, os funcionários costumavam brincar de karaokê e ela, claro, era o grande destaque.

Por insistência de uma colega, começou a participar, com ela, dos ensaios de uma banda de blues. A partir dessa experiência, Lynell resolveu retornar ao mundo da música. Em 2011, ela deixou a empresa e conseguiu um emprego como professora de música em uma escola primária de Baton Rouge. Ganhava menos, mas tinha mais tempo para estudar e cantar em algumas apresentações.

Sua vida mudou de rumo, definitivamente, em 2017, quando ganhou o Concurso Sarah Vaughan, de jazz vocal. Como parte do prêmio, Quiana Lynell ganhou um contrato com a gravadora Concord, uma das mais prestigiosas do jazz. De lá para cá, as oportunidades começaram a aparecer. A primeira, e mais importante, foi a participação na turnê do trompetista Terence Blanchard, que acabou se tornando um mentor da cantora.

Blanchard continua orientando a carreira de Quiana Lynell. A seu convite, a cantora se apresentou, no ano passado, no grande show que celebra o Dia Internacional do Jazz, o 30 de abril. “Foi uma coisa louca”, explica Quiana. “Eu estava ali, tocando com as pessoas que idolatrava. Encontrei um grupo de pessoas fantásticas, dedicadas, dispostas a ajudar-me a desenvolver meu talento”.

Todo o talento de Quiana Lynell pode ser comprovado com seu disco A Little Love(2019), que acaba de ser lançado pela Concord Records. Nele, a cantora passeia sua voz por clássicos do jazz e do blues como They All Laughed, dos Gershwin; Hip Shakin' Momma, de Irma Thomas; e You Hit The Spot, de Gordon e Revel.

No vídeo a seguir temos uma apresentação de Quiana Lynell, gravada em 28 de março último, em que ela canta algumas das músicas de seu disco e conta um pouco de sua carreira.

segunda-feira, 29 de abril de 2019

Carlos Lyra, Além da Bossa e da Influência do Jazz


O compositor Carlos Lyra, 85 anos, autor de músicas que marcaram o início da bossa nova, como Minha Namorada, Coisa mais linda, Lobo Bobo e a marcante Influência do Jazz, está lançando um novo álbum, Além da Bossa. É seu primeiro trabalho autoral em 25 anos. O repertório reúne composições novas e antigas, que ele nunca havia gravado, como as canções Até o Fim Na Batucada. É uma produção primorosa, que destaca a qualidade e a sofisticação da obra de Carlos Lyra. 
O disco tem participações muitos especiais de seus amigos Marcos Valle, João Donato, Dori Caymmi e Jacques Morelenbaum, entre outros. Além da Bossa traz ainda bolero, tango, samba canção, gêneros que Carlos Lyra considera igualmente relacionados com a bossa nova. Ele conversou comigo sobre jazz, sobre bossa nova e especialmente, sobre Influência do Jazz, sua composição de “protesto”, que se transformou, exatamente, em um ícone do jazz.
FM: Os historiadores da música brasileira destacam que a bossa nova surgiu influenciada pela música americana, o jazz, especialmente...
CL: Não é verdade. A Bossa Nova nasceu de muitas influências reunidas e um determinado tipo de jazz, o West Coast, foi uma das influências. As outras, os impressionistas Ravel, Debussy, Stravinsky; o bolero mexicano, a música francesa e também os standards americanos de Gershwin, Cole Porter, Jerome Kern, Rodgers and Hart. 
A Bossa Nova tem todas essas influências e trabalha com todos os ritmos, do samba ao tango. Ela é uma estética. Uma maneira de compor com melodias elaboradas mas simples, harmonias sofisticadas mas encadeadas, sem “aranhas” e aquele ir e vir pelo braço do violão, e letras coloquiais e pra cima. Sem fossa!
Você era fã de jazz? Quem você escutava? Que músicos lhe inspiravam? 
Eu e Menescal nos reuníamos para ouvir os acordes do Barney Kessel, que eram diferentes. Sempre gostei, apenas, do jazz West Coast. Chet Baker, Stan Kenton, Shorty Rogers, Dave Brubeck Quartet and Gerry Mulligan, eram meus favoritos e sempre me inspiraram.
Sua composiçãoInfluência do Jazz tornou-se um standard do samba jazz. Quando você a compôs, havia a real intenção de criticar essa influência?
Fiz a composição exatamente para criticar o excesso de improviso de jazz que tomou conta da música brasileira na década de 60. E exatamente aquele improviso vazio e tão comum, onde o músico passeia pelas escalas sem qualquer melodia bonita, mostrando apenas técnica mas nenhuma inspiração melódica. É aquela velha história que ouvi em NY. Depois de um solo desses, viraram para o músico e pediram: Please, tell me a story!
Tom Jobim, rindo, após ouvir um músico fazer todo esse malabarismo com a minha música, me disse: “O que você fez foi propaganda subliminar!”
Se você ouvir minha primeira gravação de Influência do Jazz, verá que gravei com ritmo de samba e não de jazz.
Você tem contabilizada quantas gravações existem de Influência do Jazz? Qual a versão que mais lhe agrada? 
Não faço a menor ideia de quantas são. Essa música foi muito gravada por instrumentistas de todo mundo e é muito difícil acompanhar. Pra mim a gravação da Leny Andrade é definitiva. 
Como você vê hoje o êxito de Influência do Jazz, como um tema de jazz, ainda que debrazilian jazz? 
Deturparam minha ideia da crítica e propagaram a música no estilo jazzístico e isso a fez ganhar o mundo. É uma daquelas coisas que você faz com uma intenção e ela faz sucesso por outro viés. Mas música é igual a filho. Você cria pensando que vai ser uma coisa e depois elas tomam um rumo inesperado que pode levar ou não ao sucesso. Nesse caso, ela fez sucesso e fico feliz.
Você considera que a influência do jazz na música brasileira, ao final, possa ter sido positiva, com o advento de uma música instrumental brasileira de qualidade?
Acho que elementos do jazz, principalmente as harmonias, foram muito positivas para sofisticar o violão brasileiro e, posteriormente, a música em todos os seus elementos e instrumentos, mas acho que é um bom tempero e, como todo tempero, não deve se sobressair para não tirar o sabor do protagonista que, nesse caso, é a música brasileira.
- No vídeo a seguir temos Carlos Lyra e uma superbanda apresentando uma versão instrumental de Influência do Jazz, em uma versão já mais jazzística.


terça-feira, 2 de abril de 2019

A carreira marcante e curta de Lee Morgan


O pequeno Slug’s Saloon, no East Village de Nova York estava lotado naquele sábado gelado de 19 de fevereiro de 1972. A atração da noite era o trompetista Lee Morgan, a grande sensação do jazz, naquele momento. No intervalo do show, sua mulher Helen Morgan chega para assisti-lo tocar. Encontra Lee Morgan, na mesa dos músicos, com outra mulher. Os dois discutem, ela saca um revolver da bolsa e lhe dá um tiro no peito.

Lee Morgan havia começado sua carreira profissional aos 15 de idade. Nascido na Filadélfia, em 1938, ele foi aluno de Clifford Brown. Participou de workshops com Miles Davis e Dizzy Gillespie, que se tornaram outras de suas influências. Em 1956, com 18 anos, Morgan passou a integrar a Big Band de Dizzy Gillespie e, também, gravou seu primeiro disco solo para o selo Blue Note, Indeed.

Nesse mesmo ano de 1958, Lee Morgan ingressou no grupo de Art Blakey Jazz Messengers. Ali ele desenvolveu seu talento de solista e de compositor. No álbum Monin’ (1958), um dos grandes sucessos do grupo, o trompete de Lee Morgan se destaca no solo da balada Along Came Betty. Foi também por essa época que Lee Morgan se iniciou na heroína.

O vício virou um problema na vida do trompetista. Acostumado à elegância, Lee Morgan passou a andar desleixado, gastava todo seu dinheiro em drogas. Começou a faltar aos ensaios e shows. Foi expulso do Jazz Messengers, em 1961. Ninguém mais queria contratá-lo, porque não havia garantia de que Morgan apareceria para tocar.

Estava no fundo do poço quando conheceu Helen. Ela era amiga de muitos músicos e sempre os recebia para jantar, em sua casa. Lee Morgan apareceu por lá em um dia de inverno. Estava sem casaco e sem o trompete. Ele os havia empenhado, para comprar drogas. 

Helen, bem mais velha, ficou com pena daquele quase menino e resolveu cuidar dele. Abrigou Lee em sua casa, ajudou-o a tratar-se e a recuperar-se fisicamente. Morgan levou dois anos longe dos palcos e dos estúdios, até conseguir ser firmar novamente. Casaram-se e Helen passou a cuidar de sua agenda, garantir sua presença nos shows. Recuperado, em 1963 Lee Morgan gravou o primeiro disco da nova fase, The Sidewinder, referência em sua carreira.

De volta à primeira linha do jazz, Morgan era uma estrela naquele ano de 1972. Sua relação com Helen, contudo, já não era tão boa. Ela desconfiava que ele teria outra, mas encontrar os dois no Slug’s, ela não esperava. O tiro não teria sido fatal se Morgan fosse socorrido rápido. Por causa da neve, a ambulância levou mais de uma hora para chegar e o músico não resistiu. Lee Morgan tinha apenas 33 anos.

No vídeo a seguir, podemos ouvir Lee Morgan no grupo Jazz Messenger, com Art Blakey, na bateria, no tema I Remember Clifford. A composição é de Benny Golson, que está no sax tenor, em homenagem ao seu amigo Clifford Brown.


terça-feira, 19 de março de 2019

Ouça o melhor Jazz do Brasil no Improviso




O Jazz do Brasil está no Improviso, na Rádio Senado FM. A música vocal e instrumental brasileira com a levada do jazz. Os melhores instrumentistas do mundo, interpretando as composições brasileiras e os grandes artistas brasileiros tocando a música internacional. A mistura do balanço da bossa com o improviso do jazz. Esse é o espírito do programa. O Improviso vai ao ar às sextas feiras, às 23 horas, com reprise nos sábados, as 18 horas. Em Brasília, a Senado FM está no dial 91,7:

https://www12.senado.leg.br/radio/1/improviso

Quincy Jones, aos 86 anos, lenda do jazz e do pop



A ponto de completar 86 anos, Quincy Jones merece todas as homenagens que tem recebido do mundo da cultura. Compositor, arranjador, produtor e empresário de sucesso, ele é um verdadeiro monstro sagrado na indústria do entretenimento. Em seus mais de 60 anos de atividade, detém o recorde de 80 indicações para o Grammy, com 28 prêmios e um Grammy Legend, em reconhecimento à sua carreira.

Desde muito pequeno a música já fazia parte da vida de Quincy Jones. Com seis anos, escapava de casa para tocar o piano na casa vizinha. Aos 14 anos, estudante de piano e trompete, conheceu Ray Charles, que tinha então 17 e já era um talento reconhecido. O músico se tornou seu amigo e mentor e lhe abriu as portas para a profissão.

Com 15 anos, Quincy Jones estava tocando trompete, acompanhando Billie Holiday, em sua apresentação em Seattle, onde Jones vivia. Aos 17 anos ganhou uma bolsa para estudar na Berklee College of Music, a grande academia americana de jazz. Permaneceu pouco tempo na universidade, logo foi chamado para ser trompetista, pianista e arranjador na big bandde Lionel Hampton.

A carreira profissional levou Quincy Jones a morar em Nova York, onde passou a escrever arranjos para Sarah Vaughan, Dinah Washington, Count Basie, Duke Ellington e para seu grande amigo Ray Charles. O salto na carreira se deu quando Frank Sinatra o convidou para escrever as orquestrações do álbum It Might as Well Be Swing, que Sinatra gravou com o pianista Count Basie, em 1964. A canção Fly Me To The Moon, que abre o disco, tornou-se um dos clássicos de Sinatra. 

Ainda em 1964, Quincy Jones escreveu a trilha sonora do filme The Pawnbroker (O Homem do Prego), de Sidney Lumet. Foi a primeira das mais de 40 trilhas de sucesso que Jones escreveu para o cinema. Entre elas, as premiadas A Sangue FrioNo Calor da NoiteBob & Carol & Ted & Alice. A nova atividade o levou a fixar residência em Los Angeles, onde acabou tornando-se, também produtor musical e produtor de cinema.

Como produtor musical, Quincy Jones teve seu auge com o álbum Thriller (1982), do músico Michael Jackson, de infausta memória. O disco é o recordista absoluto de vendas na história da indústria musical. São 110 milhões de cópias vendidas no mundo inteiro. Jones foi também o produtor e o maestro do último álbum gravado por Miles Davis, em 1991. No disco Miles & Quincy Live at Montreux, Jones recriou os arranjos de Gil Evans para temas clássicos de Davis, como Miles Ahead.

As diferentes facetas de Quincy Jones, estão apresentadas no documentário que a Netflix lançou em final de 2018. Dirigido por sua filha Rasheda Jones, o filme Quincy conta em detalhes a longa trajetória. No vídeo a seguir, temos Quincy Jones dirigindo a Amazing Keystone Big Band no tema Manteca, em 2014 no Festival Jazz à Vienne. 


quinta-feira, 21 de fevereiro de 2019

Cécile McLorin Salvant a americana que aprendeu jazz na França


Domingo (10/02) é o dia da festa do Grammy, a grande premiação da indústria musical. Na área do jazz, é enorme a expectativa em relação ao prêmio de Melhor Álbum de Jazz Vocal, que poderá ir, uma vez mais para a jovem cantora Cécile McLorin Salvant. Com cinco discos gravados, ela já teve quatro indicações para essa mesma categoria e já ganhou o prêmio duas vezes.  Ela concorre com o álbum The Window, lançado nos Estados Unidos em finais de 2018.

Cécile McLorin Salvant é americana, nascida em Miami, em 1989, filha de uma professora francesa e um médico haitiano. Educada em francês, ela começou a estudar piano aos cinco anos e aos oito passou a integrar o coro infantil de sua escola. Paralelo à sua educação formal ela recebia lições particulares de canto lírico. No final da adolescência, resolveu mudar-se para a França a fim de estudar Ciências Políticas e aperfeiçoar-se em canto clássico por lá.

A mãe de Cécile acompanhou a jovem na mudança a Aix-en-Provence, em 2007, para ajudá-la e estabelecer-se no novo país. Olhando a lista de disciplinas oferecidas no Conservatório Darius Milhaud, ela viu que, além de canto clássico e barroco, havia ainda um curso de canto de jazz. Foi ela quem sugeriu à jovem que cursasse, também, essa matéria.

No teste para aceitação na disciplina Cécile McLorin Salvant cantou o tema Misty, que costumava escutar em casa, nos discos de sua mãe. O professor, o saxofonista Jean-François Bonnel ficou impressionadíssimo com a nova aluna de apenas 18 anos, que era capaz de levar para o jazz o alcance e a precisão do belo canto. Ela mesma, no entanto, não tinha muito entusiasmo pelo jazz, mas acabou gostando daquelas aulas por outra razão.

“Nas aulas de jazz estavam todas aquelas pessoas legais, com seus dreadlocks, de cigarro nos dedos”, conta Cécile. “Era muito diferente do programa de música clássica, cheio das menininhas afetadas ou da Ciêns-Po, com seus arrogantes riquinhos de direita. Como eu não tinha nada que ver com essas pessoas, eu via o departamento de jazz como um lugar para fazer amigos”.

E o primeiro amigo e mais importante que Salvant encontrou foi o professor Bonnel. Ele que introduziu Cécile ao mundo do jazz, em um curso intensivo de história do gênero. “Ele me deu os cds das cantoras mais importantes do jazz. Foram vinte, de uma vez, que eu passei a escutar todo o tempo”, conta Cécile McLorin Salvant. 

A jovem cantora ouviu tudo de Ella Fitzgerald, Sarah Vaughan, Billie Holiday, Bessie Smith, Betty Carter, Dinah Washington e Abbey Lincoln. Cécile trouxe para seu canto a técnica apurada de Ella e de Vaughan, mas se impressionou com o inconformismo de Bessie Smith. “Ela falava de sexo, de comida, de coisas selvagens, falava de diabo e de inferno, coisas excitantes, muito diferente de Ella cantando Cole Porter. Bessie Smith contava todas essas ótima histórias”, explica Salvant.

Foi também seu entusiasmado mestre quem levou Cécile para os palcos, em apresentações com seu grupo pela Europa. Ainda na França, em 2010, eles gravaram o primeiro álbum da cantora, Cécile & the Jean-François Bonnel Paris Quintet. Nesse mesmo ano, Salvant voltou aos Estados Unidos para participar do concurso internacional da Fundação Thelonious Monk, dedicada ao canto, nessa edição. Ela foi a vencedora e ainda saiu de lá com um contrato com a gravadora Mack Avenue.

O primeiro álbum que Cécile McLorin Salvant gravou para a Mack Avenue, WomanChild (2013), lhe deu a primeira indicação para o Grammy. No álbum seguinte For One to Love(2015), sua maneira de cantar subverte o sentido da composição de Burt Bacharach Wives and Lovers, que ela considera das mais sexistas. Com esse disco, Cécile ganhou seu primeiro Grammy de Melhor Álbum de Jazz Vocal.

Aqui temos Cécile McLorin Salvant em apresentação de uma das peças do álbum WomanChild no Dizzy's Club, uma das salas de concertos do Lincoln Center.



O terceiro álbum de Cécile McLorin Salvant para o selo Mack Avenue foi Dreams and Daggers (2017), gravado ao vivo no Village Vanguard. No palco, Salvant destaca as letras e o contexto das músicas que apresenta, como uma cantora da tradição do cabaré francês. É o que podemos ouvir em Mad about the boy. O disco lhe deu o segundo Grammy de Melhor Álbum de Jazz Vocal.

Em The Window (Mack Avenue - 2018), seu álbum mais recente, Cécile McLorin Salvant canta um repertório que vai da canção burlesca francesa ao pop de Steve Wonder, passando por clássicos americanos como Somewhere. O disco foi gravado em duo com o pianista Sullivan Fortner e tem a participação de Melissa Aldana no sax tenor. Forte concorrente a ganhar o Grammy neste domingo, esta é sua quarta indicação e pode ser seu terceiro prêmio, em uma carreira de apenas cinco discos gravados.

Atualização
Como previsto, Cécile McLorin Salvant ficou com o Grammy de Melhor Álbum de Jazz Vocal, na premiação de 2019.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2019

Terri Lyne Carrington e a superbanda de Herbie Hancock






Todas as feras desta Jam Session:

Piano         -   Herbie Hancock
Baixo         -   Marcus Miller
Bateria       -   Terri Lyne Carrington
Trompete   -   Roy Hargrove
Guitarra     -   Lionel Loueke
Guitarra     -   Wah Wah Watson
Percussão  -   Munyungo Jackson

Ordem dos solos:

Herbie Hancock - Roy Hargrove - Lionel Loueke

Terri Lyne e a justiça de gênero no jazz



A baterista, compositora, cantora, produtora e professora Terri Lyne Carrington, 53 anos, em outubro passado, criou o Instituto de Jazz e Justiça de Gênero no Berklee College of Music, o a mais prestigiosa escola de jazz dos Estados Unidos. Sua intenção é garantir a igualdade de oportunidade para músicos de todos os gêneros, incluindo os que vão além do masculino e feminino, em uma atividade que ela afirma estar dominada por um patriarcado.

“Muita gente se preocupa com a igualdade de gênero em outros campos, mas não no jazz. Eu conheço um monte de músicos que votariam em uma mulher para presidente da república, antes de contratar uma para tocar em sua banda”, argumenta Carrington. “Existe uma enorme disparidade de oportunidades que nos incomoda e confunde”, prossegue. “As mulheres merecem ter suas músicas tocadas no rádio, serem comentadas na mídia e cobrar o mesmo que os homens”. 

Terri Lyne Carrington foi a primeira mulher a ganhar um prêmio Grammy para o Melhor Álbum de Jazz Instrumental, em 2013. Foi com seu disco Money Jungle: Provocative In Blue, em que grava temas de Duke Ellington, como Very Special, e composições próprias, como Grass Roots.

“Quando fui nominada, não percebi que estava sendo a primeira a receber a indicação”, conta Carrington. “Mais tarde, quando fiquei sabendo fiquei orgulhosa de ter sido eu essa pessoa. Mas não pude acreditar que era tão raro uma mulher ser indicada ao Grammy. E ainda mais raro, que chegue a ganhar o prêmio, quando existem tantos discos incríveis gravados por mulheres instrumentistas”.

Professora de bateria em Berklee, Terri Lyne Carrington relata que tem muito mais rapazes do que moças entre seus alunos. Ela comenta uma pesquisa realizada naquela universidade, em que os alunos foram instados a apontar suas artistas preferidas na área do jazz. A maioria citou cantoras conhecidas, como Ella Fitzgerald, Billie Holiday and Stacey Kent. Poucos se lembraram das instrumentistas do jazz.

“Isso me aborreceu, mas nos deu uma boa ideia do que estaremos enfrentando, com o Instituto de Jazz e Justiça de Gênero”, admitiu Carrington. “Faremos essa pergunta novamente, em alguns anos, e veremos se conseguimos alguma melhora na visibilidade de artistas do sexo feminino no jazz, fora da categoria cantora”.

Terri Lyne Carrington havia ganho um Grammy anterior exatamente o de Melhor Álbum de Jazz Vocal, em 2011, com The Mosaic Poject. Para esse disco, ela reuniu uma banda só de mulheres, com a participação de diversas cantoras, como Nona Hendryx, que está na faixa Transformation

No vídeo a seguir temos Terri Lyne Carrington com a banda de instrumentistas do Mosaic Project, que tem Geri Allen, no piano; Esperanza Spalding, no baixo; e Tineke Postma, no saxofone. A peça é Unconditional Love, de Geri Allen.