domingo, 8 de fevereiro de 2015

O Jazz Carnático de Vijay Iyer

Vijay Iyer (Foto: Divulgação)Vijay Iyer (Imagem: Divulgação)
As influências de diferentes campos do conhecimento fazem do pianista e compositor Vijay Iyer um artista diferenciado na novíssima geração dos músicos de jazz. Graduado pela Universidade de Yale em Matemática e Física, com doutorado em neurobiologia da cognição musical, ele é professor do departamento de música da Universidade de Havard.
Vijay Iyer nasceu nos Estados Unidos, em 1971, filho de indianos que foram para a América no início dos anos 60, quando o governo americano facilitou a imigração de cérebros de países emergentes. Começou a estudar o violino clássico aos três anos de idade, mas sempre teve uma atração especial pelo piano, que aprendeu sozinho, vendo a irmã tocar em suas práticas.
Foram quinze anos de estudos de violino, tocando inclusive na filarmônica jovem de Rochester, em paralelo à matemática. O piano era o instrumento para brincar com as notas. Vijay Iyer conta que no conservatório, tudo o que aprendia era como não sair da pauta, com o violino. Sozinho no piano estava livre para improvisar à vontade.
E foi para desfrutar desta liberdade que montou na universidade um grupo de jazz com os amigos. Vijay Iyer estava fascinado pela música de Thelonious Monk, que se tornou sua inspiração permanente. Até hoje, uma grande foto do ídolo é a peça em destaque na parede de seu estúdio.
Vijay Iyer redescobriu a música tradicional de seus antepassados quando foi fazer seu doutorado na Universidade de Berkeley, na Califórnia. Ali conheceu outros jovens de origem indiana que trabalhavam, principalmente, na indústria de informática do Vale do Silício. Muitos, oriundos de Tamil, como sua família.
Frequentando almoços e encontros com os membros dessa comunidade, Vijay Iyer se viu ouvindo e cantando as mesmas músicas que escutava em sua infância. Era a música carnática, que seus pais ouviam em discos e cantavam com os amigos em reuniões privadas. E se deu conta de que todos eles conheciam de cor as letras e mantras antigos.
A música carnática é um tipo de música clássica ritual, tradicional da região sul da Índia, cuja antiguidade remonta os idos dos anos 700. Da mesma maneira que outros gêneros de música indiana, ela tem por base a forma melódica da repetição das notas e dos ritmos cíclicos. A diferença é que o improviso tem um papel de destaque nesse gênero musical.
Essa influência, que estava adormecida na alma do músico, passou a fazer parte de suas pesquisas sonoras. Primeiro, o improviso tinha tudo a ver com o jazz e segundo, Vijay Iyer descobriu que o raga e a tala, que norteiam as repetições sucessivas da música carnática era pura matemática.
Foi esse novo jazz carnático que deu a Vijay Iyer a projeção na cena jazz contemporânea. Seu disco de 2012 ganhou os principais prêmios dos críticos naquele ano. O tema Accelerando, que dá nome ao cd é uma peça representativa de sua música. E sua leitura para Human Nature, do repertório de Michael Jackson, é tão particular que quase não reconhecemos o original nela.
É no trabalho que realiza com o saxofonista Rudresh Mahanthappa, outro músico americano de família indiana, que as influências ancestrais se fazem mais presentes no jazz de Vijay Iyer. Neste vídeo podemos assistir a performance dos dois na peça Song for Midwood.

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sábado, 10 de janeiro de 2015

Artigo no Blog do Noblat - Joshua Redman e James Carter juntos no Carnegie Hall

Os Young Lions e a retomada da tradição no jazz dos anos 90

O jazz volta a fazer sucesso de público e a vender discos a números alentadores. O primeiro álbum do saxofonista Joshua Redman, de 1993, vende cem mil cópias, de saída

Os jovens músicos que surgiram na década de 90, os chamados Young Lions, conseguiram estabelecer uma nova era de popularidade para o jazz. O período registrou um importante movimento de renascença do gênero. Não que o jazz estivesse morto, porém estava afastado do público, que se identificava mais com o rock e, especialmente, com o pop.
Alguns dos mais importantes álbuns da história do jazz foram publicados nos anos 50 e nos 60. São dessa época, por exemplo, os emblemáticos discos de Miles Davis, John Coltrane e Thelonious Monk, que influenciaram as gerações que lhes seguiram. Isto para ficar apenas em três dos maiores em seus instrumentos, o trompete, o sax e o piano, respectivamente.
O jazz viveu ali uma era de grande popularidade, com expressivas vendas de seus discos. Ao mesmo tempo, seus artistas eram bastante requisitados para shows e concertos em festivais, em todo o mundo.
O rock and roll do final dos anos 60 tornou-se um fenômeno de massa tão poderoso que deixou pouco espaço para o jazz e para a música instrumental, em geral. As gravadoras passaram a investir maciçamente nesse produto, que tinha excelente aceitação em todas as camadas.
Ao mesmo tempo, o jazz se fechava em volta de uma música mais cerebral e complicada, quase inacessível a não iniciados. Foram os anos de experimentalismos com o Free Jazz e o Fusion. Com isso, jazz nos anos 70 concentrou-se mais em pequenos clubes, com platéias restritas a aficionados.
A reaproximação do jazz com o a audiência começou nos anos 80, a partir de Winton Marsalis. Nascido em Nova Orleans, ele levou para Nova Iorque a força de suas raízes. Depois de estudar música na Juilliard School e integrar os Jazz Messengers de Art Blakey, montou sua própria banda.  Com ela, deu início ao trabalho de retomada do swing, do jazz mais tradicional.
Marsalis influenciou toda uma geração de jovens músicos, com suas apresentações, oficinas e aulas, na própria Juilliard School. Diretamente de seus cursos saíram James Carter, Christian McBride, Roy Hargrove, Harry Connick Jr., Nicholas Payton, entre outros. Por aproximação surgiram Joshua Redman, Cyrus Chetnut, Christian McBride, Russel Malone, e alguns mais.
Esse grupo despontou nos anos 90, ficando conhecido como os Young Lions. Eram todos muitos jovens, com sólida formação musical e verdadeiros virtuosos em seus instrumentos. Enquanto os mais novos teriam entre 18 e 19 anos, os mais velhos não chegavam a 26.
Eles retomam o jazz dos tempos áureos do bebop, promovendo releituras brilhantes dos temas mais emblemáticos daquela época. As gravadoras vêm nesses jovens um novo filão e investem pesado neles. Garantem a esses músicos as condições que seus antecessores nunca tiveram, contratos polpudos, produção impecável e distribuição profissional.
O jazz volta a fazer sucesso de público e a vender discos a números alentadores. O primeiro álbum do saxofonista Joshua Redman, de 1993, vende cem mil cópias, de saída. No cd está uma versão de Body and Soul, que mostra a revalorização do repertório mais clássico do jazz.
Outro expoente dos Young Lions, o também saxofonista James Carter buscou em seus primeiros discos consolidar o mesmo tipo de repertório. Seu álbum de 1995, The Real Quietstorm, abre com a composição de Thelonious Monk, ‘Round Midnight.
Todo o virtuosismo dos saxofonistas Joshua Redman e James Carter podemos conferir nesta apresentação com a com a Orquestra do Carnegie Hall. A peça é a composição de Monk, Straight, No Chaser, e a gavação é de 1997, feita no concerto em homenagem ao cineasta Clint Eastwood, outro fã do jazz.