segunda-feira, 17 de dezembro de 2018

Roy Hargrove, trompetista, 1969-2018 R.I.P.


O trompetista Roy Hargrove foi um dos expoentes da geração de músicos que deu novo alento ao jazz tradicional no início dos anos 90. Falecido no mês passado, Hargrove foi um dos Young Lions, o termo usado para identificar os novos talentos do jazz, que apesar da pouca idade, se dedicaram ao revivaldo be bop dos anos 60. John Coltrane, Miles Davis e Thelonious Monk eram a inspiração dos “meninos” que, àquela época, contavam com pouco mais de vinte anos de idade.

Criado em Dallas, no Texas, Roy Hargove começou a estudar o trompete aos nove anos. Na verdade, ele queria mesmo era tocar o saxofone mas, como seu pai tinha conseguido comprar um trompete barato em uma loja de segunda mão, esse acabou sendo seu primeiro instrumento. Logo, ele se apaixonou pelo trompete e seu tornou um pequeno prodígio em sua interpretação.

Ainda no segundo grau, o talento de Roy Hargrove chamou a atenção do consagrado Winton Marsallis. Em turnê pelo Texas, Marsallis foi ministrar uma oficina na escola de música em que Hargrove estudava. Ouvindo o garoto tocar, o aconselhou a dedicar-se ao jazz. O jovem Roy ouviu o conselho e se matriculou, no ano seguinte, na Berklee College of Music, em Boston. 

Roy Hargrove cursou apenas o primeiro ano na Berklee. Ele contava que, nesse período matava as aulas para ir tocar em Nova York, que está a umas três horas e meia de Boston. O acabou se transferindo para a New School de Nova York, onde concluiu sua formação. E essa história divertia seus alunos, quando ele se tornou professor em Berklee.

Já em Nova York, Roy Hargrove gravou seu primeiro álbum como líder, Diamond in the Rough, em 1989, com apenas 20 anos. O repertório traz composições próprias e clássicos como Ruby My Dear, de Thelonious Monk, que ressaltam as qualidades do trompetista na interpretação das baladas.

Em sua carreira,  Roy Hargrove ganhou dois prêmios Grammy de melhor álbum de jazz. O primeiro em 1997, por Habana, gravado com músicos cubanos, como o pianista Chucho Valdez, que lhe dedicou a peça Mambo For Roy. O outro prêmio veio em 2002, pelo álbum Directions in Music, com o pianista Herbie Hancock e o saxofonista Michael Brecker. A parceria rendeu o tema Misstery.

Roy Hargrove morreu no último dia dois de novembro, em consequência de um ataque cardíaco. Ele estava com 49 anos e vinha sofrendo de uma grave insuficiência renal. Apesar da doença, o músico não deixava de se apresentar e excursionar pelo mundo. Esteve no Brasil em agosto de 2017, tocando no Sesc Pompeia, em São Paulo. No vídeo a seguir temos a apresentação de Roy Hargrove e seu Quinteto no Festival Jazz au Tête, na França, em outubro do ano passado.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Eric Doplhy e sua flauta de encantar passarinhos


“Os passarinhos costumavam vir cantar na minha janela, quando eu estava em casa, exercitando com o saxofone. Eu parava com as escalas e ficava tocando junto com eles”, contava assim Eric Dolphy sua relação com a música e a natureza. Inspirado no canto dos pássaros, seus solos costumavam instigar a audiência, ao reproduzir seus sons, com os diversos instrumentos de sopro que tocava.

Nascido em Los Angeles, em 1928, Eric Dolphy ganhou seu primeiro clarinete aos seis anos de idade. Com apenas um mês de estudos já estava tocando na pequena banda de seu colégio. Em sua formação, estudou o oboé, o saxofone, o clarinete e a flauta. Concluiu seus estudos clássicos no Los Angeles City College, enquanto tocava jazz nos clubes da cidade. Mas Dolphy começou a ficar conhecido em 1958, quando se juntou ao quinteto de Chico Hamilton.

Em 1959, Eric Dolphy mudou-se para Nova York e passou a integrar o grupo do baixista Charles Mingus. O músico se apresentou e gravou com alguns dos maiores nomes do jazz naquele momento, além de desenvolver sua carreira solo no selo Prestige. Dolphy integrou a banda de Ornette Coleman no álbum Free Jazz, de 1961, o que acabou identificando seu nome ao movimento.

Eric Dolphy era um músico de vanguarda, mas não pertencia à escola do free jazz. Ele estava mais próximo das experiências musicais de John Coltrane. Os dois conversavam muito e se influenciavam mutuamente. Os críticos da época creditavam à influência de Dolphy a nova sonoridade apresentada por Coltrane, em seus shows no clube Village Vanguard.

O álbum original John Coltrane Live at Village Vanguardtraz apenas umas poucas participações de Eric Dolphy, nesses concertos, como na faixa Spiritual, em que ele sola seu clarone, o clarinete baixo da orquestra sinfônica, que Dolphy levou para jazz.

Já o álbum, The Complete Copenhagen Concert 1961, traz uma versão a versão de Coltrane para My Favorite Things, em que se destaca o solo da flauta de Eric Dolphy. Impressionado com a história dos pássaros na janela, John Coltrane pediu a Dolphy que recuperasse esses diálogos em seu solo. 

Eric Dolphy morreu em 1964, no auge de sua carreira, aos 36 anos. Ele passou mal durante uma turnê em Berlim e foi levado para um hospital. Negro, músico de jazz, os médicos inferiram que Dolphy estaria tendo uma overdose de drogas. O músico não se drogava. Era diabético e não sabia. Havia tido uma overdose de mel e, provavelmente, lhe injetaram mais glicose, causando-lhe um coma fatal.

Eric Dolphy havia gravado naquele ano o álbum Out to Lunch, considerado sua obra prima. Na turnê pela Europa, junto com Charles Mingus, ele tinha revelado ao baixista que ficaria por lá, morando em Paris. Mingus compôs, em sua homenagem, o tema So Long, Eric, que tocam juntos, no vídeo a seguir. Eles não imaginavam que se despediam para sempre.