domingo, 5 de outubro de 2014

Gato Barbieri, o jazzman argentino que aprendeu com Glauber Rocha a gostar de tango

Leandro “Gato” Barbieri, completa 80 anos em novembro próximo. Uma lenda do Latin Jazz, que antes renegava suas raízes latinas. Em um momento de crise de identidade, e de criatividade, foi o cineasta brasileiro Glauber Rocha quem lhe deu o empurrão definitivo de volta às origens. E foi a leitura jazzy do tango que projetou Barbieri no cenário internacional.
Desde pequeno, Gato Barbieri se ligava no jazz. O tango e outros gêneros tradicionais de seu país não o atraíam nem um pouco. Ele faz parte de uma geração, que, de certa maneira, rechaçava o tango. Essa música andava meio esquecida na Argentina de sua juventude. Era vista como coisa de velhos.
Gato Barbieri deixou a Argentina em 1962, depois que a cena jazz portenha ficou pequena demais para seu talento. Passou quase um ano no Rio de Janeiro, mas não ficou. Pôde, contudo, conhecer bem a música brasileira, como a peça Antonico, que gravaria depois.
Seguiu para Roma onde, ali sim, sua carreira deslanchou, junto com o grupo de free jazzdo trompetista Don Cherry. O estilo marcante do sax tenor de Gato Barbieri, com seu som rascante, meio rouco, e seus sobreagudos, vem do free jazz. Seu saxofone, às vezes, fala e outras, grita, forte.
Foi em sua temporada romana que Gato Barbieri conheceu Glauber Rocha, por meio do cineasta Gianni Amico. Barbieri já estava morando em Nova York, quando Glauber Rocha foi passar dois meses em sua casa, em 1968.
Gato conta que vivia um momento difícil, com o saxofone, havia meses, encostado. Pensava que nunca mais voltaria a tocar. Na origem de sua crise, o dilema: se o jazz era a linguagem do negro oprimido, não poderia ser a sua, que era branco e, como tal, opressor.
“Glauber Rocha me fez um raciocínio muito simples e impecável. Me fez ver que não bastava ser branco para ser opressor. Que nós, os latino americanos, da mesma maneira que os negros, pertencemos a outro mundo, igualmente oprimido, o Terceiro Mundo”, relata Barbieri.
Gato Barbieri voltou a Buenos Aires, em 1969, atrás de suas raízes. Recuperou a identidade perdida ouvindo as músicas que lhe haviam marcado, sem dar-se conta. Fez uma série de concertos em que tocava os tangos, boleros e chacareras de sua terra, junto com jazz e samba. Retornou a Nova York renovado. Lá, gravou o disco The Thrid World, o primeiro a refletir sua “riqueza de subdesenvolvido”, nas palavras de Glauber Rocha.
Quando Bernardo Bertolucci o convidou para escrever a trilha sonora de O Último Tango em Paris, Gato Barbieri estava pronto. Trilha sonora e filme se integram e se complementam perfeitamente. O êxito do filme levou a música de Barbieri para o mundo.
A popularidade definitiva veio com o álbum Caliente, de 1976, produzido por Herb Alpert. Nele está a peça Europa, composição de Carlos Santana. No vídeo a seguir, de 1977, um raro registro dos dois músicos tocando esse tema.


Nenhum comentário:

Postar um comentário